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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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SALAS DE ESPETÁCULO DE VILA REAL DE TRÁS-OS-MONTES

  


Como já uma vez vimos a cultura e a arquitetura ligada aos espetáculos tem em Vila Real inesperadas e extremamente interessantes referências a nível da atividade artística propriamente dita, mas sobretudo hoje na expressão cultural inerente. E mais: não obstante a necessária descentralização, em tempos imposta pela distância relativamente a grandes centros de espetáculo, nunca deixou de se verificar e registar uma atividade de produção artística adequada, à expressão urbana e arquitetónica.


Referimos o Conservatório Regional de Música, o Teatro Municipal e ainda, como memória, o antigo Teatro-Circo. Assim, temos para já o Conservatório Regional de Musica, projeto do Arquiteto Belém Lima, inaugurado em 2004. E, como adiante se refere, é o próprio autor do projeto que nos esclarece acerca dessa tradição modernizada, a qual hoje tanto valoriza a cidade.


Estamos no quadro de uma tradição urbano-arquitetónica que remonta ao antigo Convento São Domingos, com vestígios plausivelmente originários dos séculos XVI/XVII. E há uma heterogeneidade significativa na localização urbana e no que ainda sobressai, e não é pouco, do edifício em si mesmo.


Citamos então o próprio arquiteto: “Em quinhentos e oitenta anos, o chão conturbado do Convento de São Domingos foi também hospital, quartel, estalagem, cine-teatro”. (cfr. “O Novo Hóspede” in “Conservatório de Música de Vila Real”, 2005, texto reproduzido em “Habitar Portugal 2003/2005 - ed. Ordem dos Arquitetos 2006).


E insistimos, foi também, em épocas passadas, teatro, pois lá terá eventualmente estreado em 1846 a primeira peça de Camilo Castelo Branco, “Agostinho de Ceuta”.  E a propósito dessa estreia, transcrevo o que escrevi sobre o então Theatro de Vila Real:


“Com a peça, estreou também um Teatro com ar de Igreja, e se calhar fora-o antes, singelamente denominado Theatro de Vila Real. Era pertença de João Pinto da Cunha, tio do escritor. Seguiram-se algumas salas até ao Teatro Avenida, depois Cine-Teatro Real, de 1930. ( in “Teatros de Portugal” ed. INAPA 2005).


Sobre o Conservatório Regional de Música, e tal como tivemos já ocasião de referir, o que mais impressiona é a conciliação do atual projeto arquitetónico com a funcionalidade de uma casa destinada ao ensino, sem trair nem a tradição nem a modernidade. Salienta-se designadamente a harmonização da arquitetura contemporânea com o romano-gótico da Sé e com a envolvente urbana, num edifício de vocação ampla e realizada na docência e no espetáculo artístico inerente.


Ora bem: Sousa Bastos cita, em 1908, um Teatro Circo de Vila Real, construído a partir de 1879 e inaugurado “em 1 de janeiro de 1892 com o drama D. António de Portugal desempenhado pelo grupo de amadores dos Bombeiros Voluntários de Vila Real e pela atriz Carlota Veloso. Tem 26 camarotes numa só ordem, 4 frizas, 208 cadeiras, 170 lugares de superior e 300 de galeria”!... (in “Diccionario do Theatro Português” ed. 1908 pág. 326).  

DUARTE IVO CRUZ

Obs: Reposição de texto publicado em 09.12.17 neste blogue.