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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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NOVA EVOCAÇÃO DE JOSÉ RÉGIO DRAMATURGO

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Aqui temos referido espaçadamente, como é óbvio, as ligações de José Régio à arte do Teatro, tendo bem presente a relatividade cénica da sua produção teatracional: um conjunto de textos diversos e dispersos que, entretanto, se valorizam pela própria criatividade e qualidade do autor. Mas mesmo assim há que ter presente a relatividade do teatro do conjunto admirável da sua obra em geral e mesmo na comparação e visão completa e complexa dessa criatividade global. Régio é de facto um grande autor, mas o teatro não significa a dimensão mais determinante da sua obra geral.

Não vamos aqui e agora repetir o que certa vezes escrevemos sobre a obra teatral de Régio e, no entanto, será sempre oportuno retomar o comentário que a qualidade, vastidão e heterogeneidade da sua obra amplamente justifica.

Em qualquer caso, importa invocar a doutrina constante neste conjunto de peças de teatro, ainda por cima contabilizadas com dois aspetos sempre citáveis na obra de Régio: de um lado a vastidão e qualidade do suporte literário subjacente, aliás adequado à atividade profissional; e por outro lado, o sentido do espetáculo que em si mesmas cada uma das peças comporta.

E tudo isto insista-se, numa qualidade literária, poética e de espetáculo que, em si mesma, sobrevaloriza cada uma das peças. Sendo certo que, se por um lado o conjunto da obra de José Régio tudo valoriza de forma coerente, por outro lado a conciliação com os aspetos complementares da restante e vastíssima obra marcam o sentido intuitivo da espetacularidade que o teatro exige!...

E de tal forma assim é, que o próprio Régio assim o consagra, numa vasta análise denominada rigorosamente “Vista sobre o Teatro”, incluída nos três ensaios sobre a Arte que editou em 1967.

Diz então José Régio:
“fantasiemos o momento: a admitirmos a trindade o autor dramático, ator e encenador – três pessoas distintas e uma só verdadeira – diríamos que é essa única verdade que caberia ao cuidado do espetáculo teatral. Não passando isso de fantasia que viria a, lucidamente, sugerir o sentido dado aos extremos, regressemos à realidade: esse pensamento teatral, de que se tenta uma realização no palco, essa ideia central ou teia de ideias, em redor da qual é preciso criar uma espécie de personalidade coletiva realizadora; essa intenção profunda em foco, esse unitário que sustenta o espetáculo – não é ilusoriamente que desde sempre os atribui o bom senso comum, o autor dramático, criador do texto”.

DUARTE IVO CRUZ

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE ALBERTO PIMENTA

  


tornei a sonhar com o homem

tornei a sonhar com o homem
que se debruça sobre ti
mete as mãos 
na tua vagina
tacteia empurra segue sobe
chega ao teu coração
arranca-o com as unhas
trá-lo para fora com um fio de pesca
embrulha-o num pano
afasta-se com ele
o sangue não pára
tu ficas a ponto de morrer
com muito estertor
mas não morres

tens razão
eu não conseguiria
satisfazer-te tão intensamente
como o homem dos teus sonhos


again i dreamt of the man

again i dreamt of the man
who bends over you
his hands
in your vagina
he touches pushes presses on upwards
reaches your heart
with his nails rips it out
pulls it with a fishing line
wraps it in a cloth
takes it away
the blood doesn’t stop
you are nearly dead
gasping
but you don’t die

you are right
i wouldn’t be able
to satisfy you as intensely
as the man of your dreams

 


© Translated by Ana Hudson, 2012
in Poems from the Portuguese