CRÓNICA DA CULTURA
VINTE POEMAS (IV)
XVI
Outros séculos virão
Outras grades impedirão as aves
Do grito
Mas no ouvido concreto
O apelo
Às vidas de pé
Será consciência pura
De uma vitória
XVII
Somos gotas
E pouco mais
Às vezes gotas de água
Outras
Hálito
Amanhã
No buxo de um qualquer lodo
Indiferenciadas
As nossas pegadas
Só as glicínias
Têm memória
Só as abelhas
Zumbem
Só as crianças
De colina em colina
XVIII
Em cinzas
Depois do grande salto
Dirigimos as cartas
À existência que nunca se viveu
XIX
Ao princípio a guerra e a paz
Dividem-se pela fenda
Depois
Identificam
O atalho
XX
Que uma locomotiva
Transporte um cordeiro
Que a rama branca resgate
A nossa paz
E que tudo isto aconteça enquanto viajamos
Habitantes do humano
Teresa Bracinha Vieira