EVOCAÇÃO DE VITORIANO BRAGA DRAMATURGO
Vale a pena evocar autores que souberam marcar com qualidade o teatro português, mesmo nos casos, e tantos são, em que a qualidade criativa das peças respetivas não impede uma hoje menor projeção das obras respetivas. É caso para dizer que a qualidade criacional subsiste mesmo quando os textos e os autores respetivos caíram no esquecimento: e essa circunstância é mais habitual do que se espera no teatro português…
E precisamente, hoje evocamos um caso óbvio, patente mas de menor projeção na dramaturgia portuguesa do século XX. Referimo-nos a Vitoriano Braga (1888-1940) e ao conjunto de peças que nos deixou e que hoje estão esquecidas.
E no entanto, no contexto marcante do teatro português, merecem evocação e justificam a referência, mesmo admitindo, e novamente o fazemos, que esta dramaturgia estará algo esquecida: e no entanto, a qualidade respetiva merece sempre destaque.
Em qualquer caso, a dramaturgia de Vitoriano Braga constitui um conjunto relevante, quanto mais não seja pela coerência criacional respetiva. E de tal forma assim é, que criadores de qualidade, como designadamente Fernando Pessoa, não hesitaram em destacar algumas das peças que, no seu conjunto, marcam até hoje esta dramaturgia, hoje infelizmente algo esquecida…
Mais uma razão para o evocar!
Até porque o conjunto de peças é vasto e coerente. E de tal forma assim é, que a peça “Octávio” (1913) merece referência o mais possível elogiativa. Antes dela, Vitoriano Braga escrevera “A Bi”, (1908) com João Vasconcelos e Sá. E a seguir criaria mais textos dramatúrgicos.
Já escrevemos: muitos deles esquecidos, é certo, mas nem por isso menos relevantes. Citamos designadamente, alem do “Octávio” (1912/1913), “Extremo Recurso” (1914), “O Salon de Madame Xavier” (1918), “O Conselho da Noite” (1922), “A Casaca Encarnada” (1922), “Inimigos” (1925), “Entre as Cinco e as Oito” (1927) e “Lua de Mel” (1927).
Trata-se pois de um conjunto relevante de criação dramatúrgica que merece referências elogiativas. É caso para dizer aliás que este vasto conjunto de peças merece em si mesmo destaque!
E acrescentamos uma referência ao teatro de Vitoriano Braga que desenvolvi na “História do Teatro Português” (ed. Verbo 2001).
Escrevi efetivamente que quando comparamos a obra de Vitoriano Braga com aquilo que o autor sonhou e planeou, e ainda com o que dele se poderia esperar, ficamos com uma sensação de valor inacabado ou de potencial não concretizado. E mesmo assim, estamos perante uma tábua dramatúrgica considerável e em certos momentos extremamente interessante.
Fernando Pessoa não poupa elogios a “Otavio” talvez sensibilizado pelo teor pró-simbolista e decadentista da peça. Em qualquer caso não hesitou, recorde-se, em a considerar notável … E assim é!
DUARTE IVO CRUZ