Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CENTENÁRIO DE “A CASACA ENCARNADA”

 

Quem hoje se veste com uma casaca encarnada? Ou, por outras palavras, quem hoje iria escrever uma peça intitulada “A Casaca Encarnada”? Esperemos que ninguém o faça sem remeter ao século anterior, para citar designadamente “A Casaca Encarnada” de Vitoriano Braga, publicada em 1922, exatos 100 anos decorridos, o que justificará uma referência cronológica.


Mas neste caso, haverá outra razão marcante:  pois “A Casaca Encarnada” representa uma abordagem do teatro que, insiste-se, um século decorrido, reflete a situação social e psicológica da época, mas com rigorosa qualidade cénica e literária e com aspetos que sociologicamente também perduram.


Pois a verdade é que, independentemente da qualidade cénica, a peça em si mesma não perde atualidade. E mais: como já escrevi, consubstancia de certo modo um dos mais sólidos suportes desse teatro.


Independentemente de outras características, nela encontramos (como já escrevi e agora cito) a situação de um pianista fraudulento, que acaba num cabaret da época, vestido precisamente com uma casaca encarnada a ganhar a vida como pianista de jazz: E não obstante um século decorrido, a peça, tal como refiro na “História do Teatro Português” é perfeitamente fraudulenta no seu enredo. A falência fraudulenta do protagonista Evaristo Fernandes serve de contraponto as suas aspirações como pianista.


E como já escrevi, “A Casaca Encarnada” é o mais sólido suporte da obra teatral de Vitoriano Braga.


Comporta uma muito bem armada descrição do ambiente especulativo da economia e da sociedade portuguesa da época. E a densidade e veracidade psicológica adequam-se à ambientação. A promiscuidade da atividade económica concilia-se com o ambiente social e representam a Lisboa desse tempo…


É adequada pois esta breve evocação!...


DUARTE IVO CRUZ

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE ANTÓNIO CARLOS CORTEZ

  


A palavra eu acredito nela…


A palavra eu acredito nela
Na sua pedra rugosa na sua superfície
De astro inominável como o fogo
A palavra eu acredito na sua sombra
Na sua medida singular
Na sua circunferência exacta quando arde
Na vida com seus animais urbanos
Evolando-se os animais no verbo escuro
Acreditar no infinitivo lodo do seu jogo
E não permanecer na sua cegueira incerta
A poesia quando se rende ao real literal
Ausente da vida que a perfura
A palavra eu acredito nela e na sua luz secreta
Entre o seu fazer e o ser dita na leitura


in A Sombra no Limite, 2004


I believe in the word...


I believe in the word
Its rugged stone its surface
Star as unnamable as fire
I believe in its shadow
Its singular measure
Its exact circumference as it burns
In life with its urban animals
Animals vanishing in the verb’s darkness
To believe in the infinite swamp of its sport
And not dwell in uncertain blindness
Poetry surrendering to literal reality
Absent from the piercing life
I believe the word, its secret light
Between its making and its telling as it is read


© Translated by Ana Hudson, 2011
in Poems from the Portuguese