CRÓNICA DA CULTURA
«Era velhíssimo na adolescência, adolescente na maturidade e toda a gente me acha simultaneamente infantil e soturno. (...) Em cinquenta anos, não notei indícios de um destino manifesto ou de um destino humildemente necessário.»
Ao escutar afirmações como esta tornei-me leitora assídua e atenta de VPV.
Em 1964, entrou para O Tempo e o Modo como contributo a fazer a ligação da Igreja às causas da liberdade e da justiça e remir as conivências com o regime ao lado de Alçada Baptista e João Bénard da Costa.
Deste período muito escutei mais tarde falar da sua inteligência e acutilância na capacidade de análise, usando a língua portuguesa com mestria invulgar. O Tempo e o Modo viria a ser um lugar onde estava porque estava com seus amigos.
VPV historiador e grande cronista, vigoroso no raciocínio mordaz, sempre entendeu que em Portugal nos faltava o pudor que a História ensina, país este em que o menor sinal de boa-fé apenas aproveita aos patifes.
Referia muitas vezes que por aqui a épica do faz-de-conta, fazia viver a pontuação como o grande modo de ter ideias construídas, saltando as letras da escrita pelos entredentes autoritários das vírgulas afinal incapazes de conhecer os pontos de interrogação.
A adesão ao projeto d’ O Independente foi muito importante e decisiva para aquele Jornal. Paulo Portas reconhece VPV como um magnífico colunista, grande amigo e uma das pessoas mais inteligentes que conheceu.
Neste brevíssimo ponto sobre VPV, de referir que entendi os seus imensos recursos ao cinismo, como um faro para algo que não está na vida, já não ou ainda não, como já se escreveu.
Li este livro pela mão da “Contraponto” - Uma longa viagem com Vasco Pulido Valente- num verdadeiro e tentador repente.
Teresa Bracinha Vieira