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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICA DA CULTURA

Quando os livros são moinhos

  


Como se fora criança, nas suas primeiras experiências a descoberta sempre constituiu hábito e normalidade; diria mesmo que vivia num estado musical de revelação, de aparição de realidades que nada tinham de músculo miraculoso.

E lia.

A escola estava ali: nos livros que a impediam de morrer aos poucos; nos livros que lhe entendiam o rosto e lhe respondiam também aos conteúdos da idade.

Por ora, por entre os livros que lia, era «o Amolador» aquele que mais redonda companhia lhe fazia.

As palavras deste livro eram chispas arrancadas a distâncias que apenas intuía e que desvendavam lendas com cheiro a pão caseiro. E era aí, aí mesmo que queria chegar: ao pão do qual um dia não acordaria mais.

Em rigor, a sua relação com a contratação sentimental que a unia à leitura, nunca lhe subtraíra a clareza.

Nunca me pareceu que falasse de morte, mas antes de um outro final.

Os tempos e o acontecer, eram, às vezes, uma correria tributária de tendências, e por essa razão se espreitava de dentro para dentro e logo via o claro sem qualquer condição enfermiça.

Truques. Truques do ofício de se entender.

E aprendiz de livros, neles se deixava desmaiar num algo parecido a um extremo bem-estar.

Por eles, não seria enjeitada nunca ao caminhar de alma descalça, afinal, ato de seu delírio incolor e só e horizonte.

 

 Teresa Bracinha Vieira