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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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EVOCAÇÃO DO TEATRO DE JOSÉ RÉGIO

  


A sua obra dramatúrgica, hoje de certo modo esquecida, envolve uma intervenção notável na cultura teatral da época, isto, note-se bem, no âmbito e ao nível da criação dramática. E será relevante reconhecer que a iniciação dramatúrgica de Régio remonta a 1930, com a publicação, na revista Presença, de uma primeira versão do "Jacob e o Anjo”, primeira peça conhecida do autor.


Saliente-se entretanto que em 1930 publicou cenas que viriam a ser introduzidas na peça iniciática do autor, “Jacob e o Anjo”. Mas importa ter presente que Régio inicia-se como dramaturgo público, digamos assim, a partir de 1934, com a publicação, na revista Presença, de uma versão do “Jacob” a que chamou desde logo precisamente “Jacob e o Anjo, História do Rei e do Bobo escrita em seis diálogos aumentados dum Monólogo do Rei e de uma Epílogo”. A versão definitiva desta peça iniciática data de 1937, e em 1941 é republicada na Revista de Portugal.


Segue-se um conjunto de peças que efetivamente marcam a dimensão cénico-poética do teatro de José Régio. E tenha-se presente que o conjunto dramatúrgico é relevante. Em 1934 assinala-se a publicação da peça “Três Máscaras”. Em 1935 escreveu e em 1937 é republicado o “Jacob” em versão definitiva.


E a partir daí, o teatro de José Régio surge espaçado mas sempre muito relevante. E digamos que variado no que respeita a épocas e conflitos dramatizados. E a heterogeneidade de temas e ambientes cénicos é “compensada”, digamos assim, pela qualidade relevante de sucessivas abordagens criativas da arte teatral.


Assim, em 1947 é publicada a “Benilde ou a Virgem-Mãe”. Dois anos depois, é publicado “El-Rei Sebastião”. Em 1954 é publicado “A Salvação do Mundo”, em 1957 “O Meu Caso” e “Mário ou Eu- Próprio-O Outro”. Assinalam-se ainda designações que não foram concretizadas: “O Santo à Força”, “O Judeu Errante”, “Sonho de uma Véspera de Exame” (1935) publicado em 1989 e uma incompleta peça iniciada em 1940 e não completada, denominada “Sou um Homem Moral”. E é de referir que o “Jacob” foi representado em Paris.


Ora bem: interessa-nos referir citações e opiniões expressas acerca desta dramaturgia de José Régio, expressas pelo próprio. Porque, para alem de notabilíssimo dramaturgo, Régio marcou também a cultura portuguesa através de estudos que, no respeitante ao teatro, marcam a sua obra e a sua opinião divulgada e devidamente analisada.


E nesse aspeto, a obra de José Régio assume uma relevância que deve ser analisada na sua própria extensão e diversificação. E isto, porque há que relacionar a expressão teatral com outras criatividades que Régio aplicou na sua vasta obra criacional. E nesse aspeto, não será possível, note-se bem, esgotar a extraordinária vastidão e profundidade da sua vasta e variada, mas coerente criação poética e literária.


E nesse aspeto, só haverá referências necessariamente reduzidas no contexto da obra exemplar de José Régio. E mais: na vastidão e heterogeneidade da sua obra criacional, sempre coerente e sempre notável, só haverá que selecionar algumas citações exemplificativas da sua vasta obra e da sua vastíssima concecionalidade.


Assim, escreveu José Régio no texto que denominou “Vista sobre o Teatro”, publicado no notabilíssimo estudo denominado “Três Ensaios sobre Arte”:

“Fantasiemos um momento: a admitirmos a trindade autor dramático, ator e encenador – três pessoas distintas e uma só verdadeira - diríamos que a essa tal única verdadeira caberia a autoridade do espetáculo teatral. Não passando isto da fantasia, que visa a lucidamente sugerir o nosso sentimento levado ao extremo, regressemos à realidade: esse pensamento teatral, de que se tenta uma realização no palco, essa ideia central, ou teia coletiva realizadora; essa intenção profunda em foco, esse, unitário que sustente o espetáculo – não é ilusoriamente que desde sempre os atribui o bom senso comum ao autor dramático criador do texto”.

DUARTE IVO CRUZ   

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE BÉNÉDICTE HOUART

  


já penélope não sou

já penélope não sou
nem ulisses regressa
mudo de nome noite
a noite ao sabor da saliva
dos meus amantes
de dia troco lençóis
coso bainhas
descanso os olhos
dantes tecia para
enganar a corte que
me servia de prisão
agora chamo-me eu
não tenho estado civil e
na cela que me tem cativa
tornei-me finalmente livre


Unpublished, July 2010
© Bénédicte Houart


I am penelope no more

I am penelope no more
nor does ulysses return
my name changes night
by night to the taste
of my lovers’ tongues
in the day I change bed sheets
I sew seams
I rest my eyes
long ago I used to weave
to deceive the circle
that imprisoned me
now my name is I
I have no civil rights
in the cell that locks me up
I became free at last


© Translated by Ana Hudson, 2010
in Poems from the Portuguese