Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICAS PLURICULTURAIS

  

 

115. POR UMA ESTRATÉGIA EUROPEIA


Se a Europa é cada vez menos uma mera convenção geográfica, em que a fixação das suas fronteiras tem mais a ver com um recorte político, cultural e civilizacional, e não geográfico, tem de ser vista como uma entidade com um papel estratégico na cena mundial, e não virada para o seu próprio umbigo.   


Sendo uma enciclopédia de culturas, a sua construção e projeção tem de assentar em conveniências estratégicas de médio e longo prazo, e não consoante as circunstâncias, em comunhão e conjugação de esforços com uma herança cultural, histórica e religiosa que tem de ser promotora de um diálogo entre culturas e convivência de costumes, numa perspetiva evolutiva e inclusiva que ajude a transformar o mundo.


Tem de crescer como um organismo vivo, sendo as pressões económicas, demográficas e de segurança que definem, no essencial, as suas conveniências estratégicas como ente com um papel estratégico a nível mundial.   


Esta nova mentalidade estratégica europeia alicerça-se em referências laicas, humanistas, princípios ideológicos e jurídicos gerais compatíveis com a filosofia dos direitos humanos e da dignidade da pessoa humana, da subordinação do Estado e da democracia representativa e suas instituições ao Direito, da economia de mercado, na qual a iniciativa privada e a regulamentação pública se complementam num amplo mercado livre (economia mista).         


Trata-se de um paradigma civilizacional que representa uma parte muito significativa do mundo ocidental, com uma história comum, laços culturais e políticos que se aproximam cada vez mais, quer a nível linguístico, emigratório, económico, turístico, entre outros. Não surpreende que dessa convergência de valores e de interesses surja uma visão estratégica comum, fazendo com que países como o Canadá, Estados Unidos da América, Austrália, Nova Zelândia, Singapura, Coreia do Sul, Japão, tenham um modo de vida ocidental ou ocidentalizado, de crescentes influências europeias. Incluindo a América Latina e países africanos que comungam línguas oficiais de génese europeia, embora com espaços democráticos menos amadurecidos e economias menos abertas ao exterior. Sem esquecer que na própria Europa há, em termos políticos, países não democráticos.


A Europa, em particular, ao assumir a sua pertença preferencial ao mundo ocidental, faz da relação transatlântica um eixo fundamental da política de construção europeia, posição esta reforçada com o 11 de setembro de 2001, com o qual a ameaça terrorista se globalizou, sendo inviável uma construção europeia sem uma política global capaz de enfrentar os novos desafios, que tem de assentar numa aliança sólida com quem partilhamos os mesmos princípios e valores. Após os atentados, também houve uma aproximação maior entre a Rússia e o Ocidente. 


Porém, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Europa confronta-se e questiona-se de novo. O que torna mais claro que tem de ter uma opção estratégica, saindo reforçada a relação transatlântica da União Europeia, ocidente europeu e seus aliados. Só que, de momento, o epicentro dos acontecimentos bélicos é na Europa, entre europeus, russos e ucranianos, povos e países eslavos, o que nos interroga sobre a Europa a leste, da antiga União Soviética e antigos países do Pacto de Varsóvia.

 

22.07.2022
Joaquim Miguel de Morgado Patrício