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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

  

 

A

Antonio Gamoneda, meu muito privilégio   


VII

 

Me llamo Maria

Quito el carmín

Entonces

La carga de ser,

La imposible costumbre de estar viva

Aparece

 

Sin máscara

Sólo, sólo

La verdad más profunda de mi vínculo

 

Y

 

Quiere salvarme

Quien me da de beber

La cicuta

 

Así

 

VIII

 

Me llamo Maria

Entre todos los caminos a mi alcance

Elegí

Los de la grande vista familiar

De los pájaros

 

Mi profunda lección de humildad

 

Y

 

Y por un momento inmenso

Sigo escribiendo

Mi casa de sed

 

Así


IX

 

Me llamo Maria

Jamás consumí la vida atada

A una cuerda

Soy cazadora del mar

Y las medusas

Juegan conmigo el juego ilícito

De un saber

 

Nadie Imposible

 

Y

 

Te doy las gracias

Piedra

Te empujaré costa encima

Mil veces

 

Así

 

X

 

Me llamo Maria

Intento la llamada

Y un día alguien

Cancelará mi nombre

Quisiera convocarlo para uno último brindis

 

Y

 

Al decir por dentro

Digo amor

Al decir versos

Digo por dentro

Al decir por fin en paz

Tu mirada-mundo

Al decir ostras

 

Escucho su música

 

Así

 

                                      

Teresa Bracinha Vieira

PEDRAS NO MEIO DO CAMINHO

XXIV NOME DE GUERRA.jpg

 

XXIV. NOME DE GUERRA

 

O nome de Judite estava riscado pelo autor na capa da primeira edição desta obra. Para muitos, a começar no Ricardo Reis retratado por Saramago no “Ano da Morte”, estamos perante uma das obras mais importantes na renovação da literatura portuguesa contemporânea, ao lado de “Viagens na Minha Terra” de Garrett. O tema, a linguagem, a ordenação – tudo dá sinais de uma vida que persegue o mundo. E neste folhetim, onde vários fantasmas se encontram, não poderia faltar esta surpreendente obra de um grande artista que não deixou por mãos alheias o domínio da literatura moderna. Antunes persegue Judite. É uma procura que se exprime como verdadeira busca de uma sombra. Escrito por Almada Negreiros em 1925 é um romance de iniciação de um jovem de província, o Luís Antunes, provindo de uma família abastada. O tio de Antunes envia-o para Lisboa ao cuidado do amigo D. Jorge (“bruto como as casas” e ordinário) com o objetivo de fazer as “provas masculinas”. E o protagonista persegue Judite, mas esta percebeu perfeitamente que ele não estava destinado a ela, mas “não lhe faltava dinheiro”, que era o principal para esperar, “para disfarçar, para mentir a miséria e a desgraça”. «A Judite é um pedaço de verdade, autêntica, sem forma nem fuga. Verdade tão pura que não admite arranjo nem escape. Ao mesmo tempo, ela é a ignorância em pessoa. Verdade absoluta sem sonho. Sem imaginação. Os seus dezanove anos cheios de cicatrizes são a estátua mutilada da Verdade. Os gestos da estátua são falsos, é tudo mentira, apenas a matéria da estátua mutilada é verdade!»

 

«Só quando chegou à rua é que viu que não ia para parte alguma. Não havia nenhum lugar para onde ele fosse. A mesma multidão, as mesmas casas, as mesmas ruas e ele. Mas qualquer coisa de novo se passava na sua vida. Se sondava o seu íntimo, não havia nada até à profundidade. Do exterior nada lhe vinha, tudo encontrava resistência nos seus sentidos para o animar de imagens. Ele não se reconhecia: havia qualquer coisa de estranho na sua vida, qualquer coisa de estranho e dele próprio ao mesmo tempo». (…) «A Judite e o Antunes entraram ambos na intimidade um do outro como ladrões que não sabem exatamente o que vão roubar. Percorreram todos os cantos, indagaram de todos os caminhos, revolveram tudo o que se procura e não se encontra, e ambas as intimidades foram impiedosamente devassadas um pelo outro. Ainda que alguém viesse depois a entrar pela primeira vez nas suas vidas, não poderia deixar de reparar em que já lá tinham andado os ladrões.» (…)  «Todos quantos intervêm na vida dos outros, quer seja no seu favor ou contra, são afinal de uma cobardia que escapa à observação dos melhor atentos. Cobardes por duas razões: primeira, por serem incapazes de se reconhecerem e darem a conhecer o seu próprio caso pessoal para a aceitação geral; segunda, porque, ao intervirem na vida dos outros, quer seja no seu favor ou contra, são incapazes também de abnegar da sua própria pessoa. Se alguém decide da sua vida para servir os outros e não renuncia a si mesmo, em que poderá então ser equânime e admirável, justo e elucidativo? Respeitemos os que a tanto se afoitaram e se decidiram, mas desprezemos os que o fingem. A condição para saber ver ao longe é estarmos dentro de nós se se trata do próprio, ou de ter renunciado a si mesmo se se trata dos outros.

Moralidade deste romance: Não te metas na vida alheia se não queres lá ficar».

 

Agostinho de Morais

 

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PEDRAS NO MEIO DO CAMINHO

cap XXIII.png

 

XXIII. COMÉDIA DE ENGANOS

 

Já encontrámos Almeida Garrett nas suas geniais “Viagens”, agora invocamos o dramaturgo na Comédia “Falar Verdade a Mentir”, pequena peça em que as personagens são confrontadas com uma sucessão de mentiras que geram, entre momentos de gozo, as maiores confusões. É o exemplo da comédia de enganos, conhecida desde a dramaturgia mais antiga. Aqui os fantasmas são reais. Duarte é noivo de Amália e tem o hábito doentio e persistente de mentir. Amália é filha do Senhor Brás Ferreira, conceituado ricaço, que não suporta mentiras! Se sonha que o futuro genro diz a mais pequena mentira, o veredicto é claro: o casamento já não pode realizar-se. Entretanto, Joaquina, criada de Amália, namora o José Félix. E os dois fazem os impossíveis para que as mentiras constantes de Duarte, se transformem, como que por encanto, em autênticas verdades! As mentiras fervem, o ricaço Brás Ferreira hesita, mas tudo é um fascinante jogo de aparentes enganos no "Falar Verdade a Mentir". O episódio do Milord Coockimbroock, representado por José Félix, é hilariante. E apesar de caricatura, é convincente. E quando a mentira parece estar para ser desmascarada, tudo se revela como se fosse verdade transparente, apesar de um discurso macarrónico supostamente em inglês. Mas não é preciso apurar muito, Coockimbroock parece convincente e ninguém sabe muito.

 

E Joaquina revela a chave do enigma. Tudo está montado para que Duarte não possa mentir, mesmo querendo. «Pobre rapaz! ficou como pateta! Se ele não está acostumado a isto. Condenado a falar verdade vinte e quatro horas a fio!... Também olhe que nos dá um trabalho! porque mente com um desembaraço e sem a menor consideração... Já se tinha esquecido da peta do almoço. Felizmente que nós estamos prevenidos, e graças ao bolsinho de minha ama e à vizinhança do Manuel Espanhol, em poucos minutos se fez da peta verdade... E José Félix! Não verão o meco sentado à mesa com meus amos como se fosse gente, o pedaço de lacaio!... Mas deixem estar que o tratante tem um ar, sabe tomar uns modos, que quem o não conhecer!... Em que ele se deita a perder decerto, é que aquilo é um comilão... O que lhe vale é fazer de inglês... não se repara. – Agora que mais falta? Vejamos. A tal visita de agradecimento ao general Lemos: essa não se pode evitar. Só se... É verdade; o general Lemos que venha cá... como têm vindo os outros. Vou avisar José Félix que se avie de almoçar e nos represente mais esse figurão. Não lhe há de custar muito... é seu amo. – Ai! que é isto, que quer este senhor?». E tudo se encaminha para o desejo de todos, contra as inadvertências do Duarte Guedes, o que leva o General a afirmar: «Não há dúvida, Senhor Brás Ferreira; é preciso consentir neste casamento. Já não tem mentiras de que o acusar». Joaquina e José Félix ufanam-se e apresentam uma eficácia de cem por cento. E Duarte reconhece a lição severa e benfazeja: «Protesto-lhe que hoje foi o último dia da minha vida que me deixei cair neste maldito vício... E nem eu sei como foi; queria-me defender... vinham umas atrás das outras... por fim... não sei... Mas acabou-se: não torno mais a mentir; custa muito, dá muito trabalho. Vi-me em ânsias! Juro que me hei de emendar... já estou emendado. – José Félix, nunca me hei de esquecer da lição que me deste, e prometo pagar-ta. – Deveras? Dando-lhe uma bolsa – E eu pago-ta já. – Melhor ainda. (apalpando a bolsa) Isto sim que são verdades puras... e não deixam mentir ninguém».

 

Agostinho de Morais

 

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O APOCALIPSE, AS DOZE ESTRELAS, SALMAN RUSHDIE

Por David Shankbone - Obra do próprio, CC BY 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=15049403

 

1. O Apocalipse, último livro da Bíblia, anda constantemente associado ao esotérico, à catástrofe, ao fim do mundo… Quem nunca ouviu falar da besta, do dragão, do número 666? Quando se quer aludir a catástrofes, horrores, guerras, fim do mundo, lá vem o adjectivo tenebroso “apocapítico”.

Quem quiser uma informação rápida, científica e séria, consulte as páginas que lhe dedicou o grande exegeta Padre Carreira das Neves na obra que escreveu a meu pedido: O que é a Bíblia. A título de exemplo, lá encontrará a explicação para os números: 3 é um número perfeito e o número de Deus; 3+4=7 ou 3x4=12, para simbolizar a plenitude (os dias da criação ou a aliança de Deus, respectivamente), os 144.000 assinalados são o múltiplo de 3x4x12x1.000 — 1.000 é o símbolo da universalidade — e simbolizam o novo povo de Deus. Em sentido contrário, a metade destes números só pode significar o não-tempo de Deus e a sua não-aliança, como é o caso de três e meio e de seis. Assim, 666 é o número da besta, um símbolo numérico do nome e título de Domiciano como imperador. A mulher pode designar a Igreja perseguida, a prostituta ou a noiva do Cordeiro…

 

2. Mas qual é a verdadeira intenção do Apocalipse, que é, repito, o último livro da Bíblia? Escrito durante a perseguição dos cristãos por Roma, é um livro que, em linguagem simbólica e cifrada, quer essencialmente dar ânimo aos que crêem: a última palavra não pertence ao mal, mas ao bem. Decisivo é compreender que o livro do Apocalipse tem o sentido exactamente contrário ao vulgarizado: trata do combate entre o Império romano e a Igreja de Deus, para animar os cristãos perseguidos, dando-lhes esperança: Deus e o seu Cristo triunfarão. Aliás, hoje os estudiosos pensam que a verdadeira estrutura do Apocalipse reside numa grande liturgia terrestre e celeste ao Cordeiro, que representa Cristo.

O Apocalipse não quer, portanto, anunciar o fim, ele é antes uma promessa. Com os melhores exegetas — lembrar, por exemplo, a correspondência epistolar pública entre o cardeal Martini, então arcebispo de Milão, e o escritor Umberto Eco, editada posteriormente  em livro: Em que é que crê quem não crê? --, deve-se ver no Apocalipse um tríplice objectivo: mostrar que a História tem uma finalidade, uma orientação, não é uma amálgama de acontecimentos sem sentido contada por um idiota, na expressão de Shakespeare; depois, que esse sentido já está presente no mundo, mas não é meramente imanente, pois só encontrará a sua realização plena meta-historicamente; finalmente, que este sentido meta-histórico se vai decidindo nos acontecimentos da história — daí, a responsabilidade ética do ser humano — e ao mesmo tempo não é da ordem do cálculo, mas objecto da esperança, já que o último salto para “um novo céu e uma nova terra” pertence ao Criador.

 

3. Seja como for, é bom e, diria mesmo, urgente reflectir sobre o Apocalipse enquanto extermínio do mundo. Basta pensar, por exemplo, no suicídio colectivo, se não forem tomadas medidas drásticas no que se refere à poluição, ao aquecimento global, às alterações climáticas… E agora está aí, bem à vista, a ameaça do horror nuclear… Como disse António Guterres, Secretário-geral da ONU, “se as armas nucleares forem usadas, provavelmente não vai haver ONU para responder, significaria a destruição do planeta.”

 

4. E seja permitida uma nota à margem, sugerindo esperança. Afinal, contactamos mais com o Apocalipse do que julgamos. O símbolo da Europa -- aquelas doze estrelas douradas sobre fundo azul, que encontramos na bandeira da União Europeia -- está em ligação com um passo célebre do Apocalipse (12, 1): "Depois, apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de Sol, com a Lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça." Afinal, um símbolo do povo de Deus, um símbolo da unidade na diversidade, um símbolo da perfeição (3x4) — lembrar, por exemplo, as doze tribos de Israel ou os doze Apóstolos.

De qualquer modo, a situação da Europa, no contexto da nova geoestratégia e geopolítica, é de uma temível fragilidade.

 

5. Estava eu na escrita desta crónica quando me chegou a notícia do ataque selvagem a Salman Rushdie. Quero manifestar-lhe a minha solidariedade, com o desejo vivo de que possa continuar a ser o símbolo do combate corajoso a favor da liberdade de opinião e expressão.

Encontrei-o em 2006 em Santa Maria da Feira para um debate sobre o choque das religiões. Ele ficou muito admirado por eu, padre católico, ter defendido que os livros sagrados exigem uma leitura histórico-crítica. Continuo a pensar isso, pois essa é uma condição essencial para a liberdade religiosa. Os livros sagrados não são ditados por Deus. Outra condição é a laicidade do Estado, a separação da Igreja e do Estado, isto é, o Estado deve ser confessionalmente neutro, para poder salvaguardar a liberdade religiosa de todos, incluindo os ateus. Mas laicidade não é laicismo, que pretende excluir a religião do espaço público.

No contexto de uma reflexão sobre o Apocalipse, quero sublinhar como decisivo o diálogo inter-religioso, em ordem a evitar uma catástrofe apocalíptica. Por paradoxal que pareça, desse diálogo fazem parte também os ateus — os ateus que sabem o que isso quer dizer —, pois, “de fora”, talvez mais facilmente se apercebam da superstição, idolatria, inumanidade, que tantas vezes envenenam as religiões. Voltarei ao tema.

 

Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia

Escreve de acordo com a antiga ortografia
Artigo publicado no DN  | 20 de agosto de 2022

 

PEDRAS NO MEIO DO CAMINHO

folhetim - cap xxii.png

 

XXII. ESCÁRNIO E MALDIZER

 

Cantigas de Amigo e cantigas de Amor representam a dimensão lírica da influência trovadoresca. Assim nasceu a língua portuguesa, filha do galaico português, como idioma de poetas. Mas para compreender as raízes da nossa cultura, temos de entender também o escárnio e maldizer. Longe de qualquer tentação de sobrevalorizar o picaresco, a verdade é que a ironia e o humor fazem parte das características próprias do português.

Reparem bem, se há um novo episódio da vida nacional, eis que surge uma anedota, se há uma nova personagem que sobressai, então aparece uma alcunha, uma piada. Não nos damos bem com a sisudez, mesmo que aparentemos conformarmos com ela. E há mesmo casos em que o escárnio ocupa um espaço indevidamente excessivo – como acontece com Bocage, um dos nossos grandes poetas, símbolo rico da literatura pré-romântica e que para o vulgo se confunde com um conjunto de falsos episódios que alimentam a ignorância cultural.

Por outro lado, o nosso Mestre Gil não aparece plenamente, como deveria, na sua dimensão plural e riquíssima da simbologia do maldizer, com sentido pedagógico e extremamente rico. Neste folhetim, poisamos no Nobiliário de D. Pedro – e damos neste capítulo um bom exemplo em que se reúne a gastronomia e o anedotário. O autor é Joham de Gaia, falecido em 1330, “boo trobador e mui saboroso” no dizer do Conde D. Pedro.

Eis o verso:

Eu convidei um prelado a jantar, se bem me venha. 
Diz ele em est’: E meus narizes de color de berengenha? 
Vós avedes os alhos verdes e matar-m’íades com eles. 
 
O jantar está guisado e, por Deus, amigo, trei-nos. 
Diz el em est’: E meus narizes de color de figos çofeinos? 
Vós avedes os alhos verdes e matar-m-íades com eles. 
 
Comede migu’ e diram-nos cantares de Martim Moxa. 
Diz el em est’: E meus narizes de color d’escarlata roxa? 
Vós avedes os alhos verdes e matar-m’-íades com eles. 
 
Comede migu’ e dar-vos-ei ua gorda garça parda. 
Diz el em est’: E meus narizes de color de rosa bastarda?
Vós avedes os alhos verdes e matar-m’-íades com eles. 
 
Comede migu’ e dar-vos-ei temporão figo maduro. 
Diz el em est’: E meus narizes de color de moréc escuro? 
Vós avedes os alhos verdes e matar-m’-íades com eles. 
 
Treide migu e comeredes muitas boas assaduras. 
Diz el em est’: E meus narizes de color de moras maduras? 
Vós avedes os alhos verdes e matar-m’-íades com eles.
 

O tema desta cantiga é a trajetória de um cavaleiro que circula de serviço em serviço de um senhor com certa presteza e grande oportunismo, graças às divergências entre facções que disputam o poder. A cantiga era seguida de uma bailada dedicada a um Bispo de Viseu, originário de Aragão, que tinha o rosto arroxeado. Cuida-se que os alhos verdes suscitavam a vontade de beber. E anote-se que berengenha era beringela; trei-nos significa vamos e treide, vinde; çofeimos é arroxeados; mórec é o moluco donde se extrai a púrpura; cárdeo é violáceo e apoiam-lho, quer dizer, acusam-no…

Perante um texto do século XIV, encontramos uma proximidade notável em termos vocabulares com a língua portuguesa moderna. Tal deve-se ao facto de em pleno século XIII a língua vulgar ter sido adotada como língua oficial e comum. Lembrando-nos de Rosalia de Castro, facilmente percebemos que é a castelhanização do espanhol do século XX que afastou o galego do português. Mas quando nos reportamos à relação cultural na raia de Entre Douro e Minho ou quando percebemos que o mirandês á a melhor recordação do asturo-leonês, compreendemos que o galego moderno apenas tem a ganhar em contacto com o português como língua de várias línguas com projeção global.

 

Agostinho de Morais

 

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A VIDA DOS LIVROS

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   De 12 a 28 de agosto de 2022

 

Torga, discípulo de Cervantes e de Unamuno, definiu Portugal como um ponto de encontro entre a vontade, o mar e a insatisfação. A leitura da sua obra permite entendermo-nos nas nossas contradições e nos nossos anseios.

 

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CADINHO DE VÁRIAS INFLUÊNCIAS

Portugal é um país difícil de entender. O cadinho de várias influências apresenta-nos elementos contraditórios. Mas há fatores que são permanentes e definem uma identidade que começa no querer, continua na omnipresença do mar e pressupõe uma luta constante. Lembremo-nos da saga dos poveiros, com o negro do luto das viúvas e dos órfãos nas praias atlânticas ou do combate contra a adversidade do meio em Trás-os-Montes, no Douro ou no Alentejo. Eduardo Lourenço e José Mattoso lembram que “uma das descobertas mais simples e irrecusáveis do após 25 de Abril é que Portugal é um país como os outros. Sem missão providencial, sem Quinto Império, sem realizações espetaculares, sem lugar especial no mundo, apesar dos Descobrimentos”. Isto significa, porém, que dependemos da nossa responsabilidade, do nosso querer e do saber pensar e fazer. Assim chegámos aqui. Precisamos uns dos outros. E temos de saber planear o futuro, partindo do presente, e avaliar os resultados que somos capazes de obter. Sempre que preparámos o futuro, ganhámos. Ao Deus dará perdemos e agravámos o nosso atraso, que não é uma fatalidade. O mérito não é um mito, só funciona quando resulta do reconhecimento das diferenças e da dignidade de cada um. Miguel Torga foi tantas vezes duro na sua apreciação de quem somos. Sabia do que falava e que nada se consegue de ânimo leve ou de ilusão. O desencanto assalta-nos tantas vezes, e o lirismo poético é apimentado com o picaresco e o maldizer.

 

O MUNDO CONTRADITÓRIO

Desejamos coisas contraditórias. E assim, se temos vícios devemos combatê-los, em vez de cultivar utopias enganadoras e esperanças vãs. Considerando-nos ou os melhores ou os piores, não nos safamos. Relendo o “Portugal” de Miguel Torga, surpreendemo-nos quando nos fala do Algarve, onde o conheci e cuja memória guardo num lugar especial. Disse ele, depois de nos descrever quem somos e onde estamos, sem ilusões: «O Algarve, para mim, é sempre um dia de férias na pátria. Dentro dele nunca me considero obrigado a nenhum civismo, a nenhuma congeminação telúrica nem humana. Debruço-me a uma varanda de Alportel e apetece-me tudo menos ser responsável e ético. As coisas de Trás-os-Montes tocam-me muito no cerne para eu poder esquecer a solidariedade que devo a quem sofre e a quem sua. E isto repete-se com maior ou menor força no resto de Portugal. Mas, passado o Caldeirão, é como se me tirassem uma carga dos ombros. Sinto-me livre, aliviado e contente, eu que sou a tristeza em pessoa! A brancura dos corpos e das almas, a limpeza das casas e das ruas, e a harmonia dos seres e da paisagem lavam-me da fuligem que se me agarrou aos ossos e clarificam as courelas encardidas que trago no coração. No fundo, e à semelhança dos nossos primeiros reis, que se intitulavam senhores de Portugal e dos Algarves, separando sabiamente nos seus títulos o que era centrípeto do que era centrífugo no todo da Nação, não me vejo verdadeiramente dentro da pátria. Também me não vejo fora dela. Julgo-me numa espécie de limbo da imaginação, onde tudo é fácil, belo e primaveril». Não, não há contradição nesta bela página, que temos de ler em estreita ligação a tudo o resto. O que Torga nos diz, é exatamente que temos de ser quem somos. E no caso algarvio, compreender que não é de sol e praia que se trata, mas de entender a cultura como capacidade de construir e usufruir, de amar a liberdade e de ligá-la à entreajuda, à compreensão da diversidade das raízes e ao desenvolvimento humano. E José Mattoso definiu o ponto que permite entender a paradoxal visão de Torga: «o fundamento da esperança no futuro é o reconhecimento dos ‘justos’ que nos rodeiam, seja qual for o meio em que vivem, e o apoio que somos capazes de lhes dar na sua luta pela ‘justiça’».

 

Guilherme d'Oliveira Martins

 

PEDRAS NO MEIO DO CAMINHO

um jantar a portuguesa.png

 

XXI. JANTAR À PORTUGUESA

 

Eu prometi que voltaria a Camilo Castelo Branco e aqui regresso ao rico mundo dos seus fantasmas. Ele bem merece. Ajuda-me o José Viale Moutinho, incansável na busca literária das melhores referências à comesaina.

Lembrava-me há dias que a frase tantas vezes ouvida às nossas mesas “Comi como um Abade” é uma citação ipsis verbis do João Semana, nas “Pupilas do Senhor Reitor”, que se lamentava por ter ainda de ver uma doente, D. Leocácia, depois daquele opíparo ágape… E já repararam que um bom cozinhado é como um bom texto, com as palavras certas nos lugares certos, os condimentos adequados com boa sintaxe e riqueza vocabular… Lembram-se o que disse o Bispo de Viseu sobre a religião?

Camilo dava tudo por um bom caldo verde e tripas. Fialho de Almeida perdia-se por umas perdizes bem temperadas. Ramalho orgulhava-se de fazer as melhores batatas fritas do orbe. João Penha fazia sonetos ao presunto e ao salpicão. Paulo Plantier reuniu as melhores receitas de escritores. João da Matta fez as ameijoas que levam o nome de Bulhão Pato, sendo este um dos maiores fazedores de pratos com a melhor caça e não com ameijoas.

Mas vamos ao nosso mestre de Seide, num livro menos conhecido, mas não menos importante. Falo de “Quatro Horas Inocentes” (1872). A descrição é, a todos os títulos deliciosa, e poderia passar-se em qualquer das nossas casas, desde que se mantenha o bom hábito de comer à mesa, a horas, com o vagar necessário e os bons manjares. Vou, por isso dar a palavra ao nosso querido Camilo, para deleite dos nossos sentidos, dos nossos ouvidos e do nosso espírito.

Um breve conselho, a humanidade fez-se não para comer alimento em manjedoura nem para a comida rápida e cheia de ingredientes de má catadura. E já agora, mais duas notas: comer vem de cum e edere, que significa alimentar-se em companhia. E não se esqueça o ditado popular, que à mesa não se envelhece, porque a conversa e o encontro significam a memória viva que nos eterniza.

“Ao domingo, depois de ouvirem a missa, cuidavam do jantar à portuguesa, d’arroz, sopa e cozido: depois, para ajudar a natureza iam dar um passeio impando o bucho grávido e estoirido. Ao lusco-fusco, as portas se trancavam, e marido e mulher, numa só alma, e numa cama só, ressonavam em sorna e doce calma, e tinham sonhos doces qual toicinho-do-céu ou pão-de-ló. Ao romper da manhã, subtil e lesta, desvelada se erguia a esposa meiga, e o almoço fazia. A xícara de chá, pão com manteiga lobrigava o marido se o olho crasso e ramelado abria, em dias festivais, em dias d’anos era a pitança mais choruda e gorda: os anjos invejavam aquela e pingue sorda que os conjuges radiosos nas festivas barricas emborcavam (…) São moda agora uns fofos vaporosos omelettes soufflés denominados, e omelettes sucrées. São etéreos de mais estes bocados, e mesmo incompatíveis c’o estomago sincero português”.  

No fundo, o sábio de Seide tinha razão – “ao pé de um bom estomago coexistiu sempre uma boa alma”…

É um problema eterno de “Coração, Cabeça e Estômago”…

 

Agostinho de Morais

 

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POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE FERNANDO EDUARDO CARITA

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Há no amor…

(Para Paulo e Lídia)

 

Há no amor uma qualquer força mortífera
Que põe os amantes um contra o outro,
Bastará que a libertem;
 
Há no amor uma qualquer força vital
Que põe os amantes a favor um do outro,
Bastará que a mantenham em cativeiro;
 
Há no amor uma qualquer força inumana
Que há-de preservar os amantes
De sucumbirem nas margens um do outro,
Bastará que a coloquem já onde o amor os não alcança.
 
in A casa , o caminho/ La maison, le chemin, 2008
 
 

There is in love...

(To Paulo and Lídia)

 

There is in love some deadly force
That sets lovers against each other,
All it takes is to unleash it;
 
There is in love some vital force
That brings lovers towards each other,
All it takes is to imprison it;
 
There is in love some non-human force
That will preserve lovers
From succumbing to each other’s limits,
All it takes is to place it right where love can no longer reach them.
 
 
© Translated by Ana Hudson, 2011
 

PEDRAS NO MEIO DO CAMINHO

O IMPAGÁVEL ABRANHOS.png

 

XX. O IMPAGÁVEL ABRANHOS

 

Há um fantasma, destes que cultivam a presença nestas páginas, que encanita sobremaneira Fradique, ainda que produzido na mesma oficina. É Alípio Severo Abranhos, nascido em Penafiel no Natal de 1826 (o ano da Carta Constitucional), tantas vezes esquecido na panóplia queiroziana. Acácio e Pacheco batem-no aos pontos, mas são da mesma genealogia. Será ciúme? Será apenas irritação ou alergia? É tudo. O certo é que este Abranhos nasceu tarde e com uma marca de legitimidade queiroziana algo tardia e enfraquecida, graças à recriação do filho José Maria do genial autor. Filho de um alfaiate e de uma camponesa, era sobrinho de uma tia dos Noronhas de Penafiel que o adotou. A lista de marcas deixadas pela personagem na história pátria perdem-se no horizonte e no número.

Eleito por Freixo de Espada à Cinta, em condições muito especiais, passaria dos Reformadores aos Nacionais (sem grande dificuldade, pois a essência dos dois era a mesma) e ficou conhecida uma frase lapidar, sendo ele Ministro da Marinha e Ultramar: “Moçambique situa-se na costa ocidental de África”, ignorando ingenuamente a monstruosidade que dizia. António Enes disse um dia que do Terreiro do Paço era difícil ver a lonjura colonial. Uma vez compreendida pelo Abranhos a gaffe, este retificou: “a ocidente ou oriente, a latitude não altera a substância e a justeza de minhas propostas”.

Quanto ao mais, se as questões sociais o preocupavam, logo propôs que os pobres fossem recolhidos em celas, onde lhes seriam ofertadas rações de caldo iguais às dos prisioneiros, de modo que o país tivesse melhor imagem, havendo que isolar o indigente. Mas nos Anais dos lugares seletos está a sua grande metáfora: “o povo assemelha-se a um elefante e o elefante a uma criança. Por isso, para quê combater um monstro invencível, se é tão simples iludi-lo”.

Z. Zagalo foi o mais célebre dos secretários particulares (com renovada imortalização por Artur Portela Filho). E há um mistério dificílimo de descobrir. De facto, de todos os fantasmas que vimos apenas Abranhos nunca mais foi visto por viv’alma. Só Z. Zagalo aparece, apesar de muito pouco e de modo fugidio. De Abranhos, nada. Até mesmo o monumento funerário que ainda se mantém no Cemitério dos Prazeres, apenas apresenta uma figura. E quem o conheceu assevera a pés juntos que o fácies da homenagem pétrea do escultor Craveiro que, ao contrário da de Pacheco continua bem visível, segundo as más-línguas, é o de Zagalo e não de Abranhos. Seriam eles uma e a mesma pessoa?

É evidente que o eterno secretário nega, mas, de facto, tudo leva a crer que Abranhos se tenha recusado a pousar para a posteridade, ou, se calhar, não teve tempo para o efeito, tendo pedido a seu fiel secretário que o fizesse por ele, o que realmente pode ter acontecido. E é de Alípio (ou de Z. Zagalo) esta afirmação bizarra: “Os governos democráticos conseguem tudo, com mais segurança e admiração da plebe, dizendo com doçura, por aqui se fazem favor, acreditem que é o bom caminho, assim o povo amolece na indiferença e assim podemos exercer a soberania em proveito próprio”. Os dois fantasmas aqui se apresentam como raras almas penadas.

 

Agostinho de Morais

 

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ANTOLOGIA

 

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INDO A ERASMO DE ROTERDÃO…
por Camilo Martins de Oliveira

 

Dizia eu que um dos motivos do meu regresso ao espólio do meu homónimo Camilo Maria fora uma edição discográfica inspirada no "Elogio da Loucura" de Erasmo de Roterdão". (Mais uma iniciativa de Jordi Savall, na sua preocupação com itinerários de diálogos pluriculturais). Aquele que foi amigo de Thomas More e Damião de Góis, entre outros, e que foi considerado um "reformador" da Igreja - com Melanchthon e Lutero, e outros mais (no entanto, contra o próprio Lutero recusou-se a abandonar a fé católica) -, era um homem de sageza e espírito aberto e benevolente, que se manteve fiel à confissão pública de uma Igreja que, por vezes "oficialmente" pouco atenta ao mundo e receosa dos homens e da história, nem sempre foi capaz de entender os ideais de informação racional e crítica, e de diálogo, do humanismo renascentista. Terá muitas vezes sentido - ele que recusou o barrete cardinalício proposto pelo papa Paulo III, mas foi conselheiro de Carlos V e amigo do papa Adriano VI - quanta fé e serenidade inteligente são por vezes necessárias para se cultivar e manter bem viva a fidelidade à misteriosa comunhão dos santos.

 

Foi este apego simultâneo à fidelidade na fé e na comunhão da Igreja, mas também ao exercício da liberdade responsável - já que, como disse S. Paulo aos Coríntios, "em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum" - que levou o Marquês de Sarolea a interessar-se por Erasmo, como, mais tarde, pelo pensamento eclesiológico do Padre Yves Congar, dominicano perseguido, depois perito do Concílio Vaticano II e, finalmente, cardeal.

 

Apesar de nos desviar deste discurso - e só por citar Erasmo de Roterdão (Erasmus van Rotterdam) e o seu "elogio" ou "Laus Stultitiae" ou, ainda, "Encomium Moriae" - não resisto a traduzir uns passos de uma carta de Camilo Maria à Princesa de... aqui vai:

«Posto que o bom senso se deve à experiência, a quem deve ele ser reconhecido? Ao Sábio que nada empreende, por modéstia ou timidez de carácter; ou ao Louco, isento de modéstia, que não pode ser tímido porque não conhece o perigo? O Sábio refugia-se nos livros dos antigos, e nada aí aprende, além de frias abstrações; mas o louco, abordando as realidades e os perigos, adquire, a meu ver, o verdadeiro bom senso...". "Ocorre-me, minha muito querida, este passo de Erasmo, por me ter lembrado da nossa visita, em Roma, à igreja de San Luigi dei Francesi. Parámos longamente a contemplar "O chamamento (ou a vocação) de S.Mateus" de Caravaggio: um raio de sol entra pelo lado superior direito do quadro, apanha a mão direita, indicadora, de Cristo, e vai iluminar a mão de Levi (Mateus) que ao seu próprio peito pergunta: sou eu?

 

No Evangelho atribuído a Mateus (pouco importa se o seu autor material foi a mesma pessoa) o episódio é descrito com intensa brevidade: "Ao passar (Jesus), viu Levi, filho de Alfeu, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: Segue-me. Ele levantou-se e seguiu Jesus". Eis um ato de loucura simples: Levi abandona-se ao perigo, a um salto no desconhecido...

 

Mas não será o desconhecido metade, pelo menos das nossas vidas? O que é, afinal, a realidade? Aquilo que presumimos nosso e segurável, indiscutível, inalterável?

 

Por me teres dito que relesse o evangelho de S. Mateus, dei com os versículos seguintes a este relato: "Encontrando-se Jesus à mesa em casa de Levi, muitos publicanos e pecadores estavam também à mesa com Jesus... ao verem-no comer com eles, os fariseus interrogavam os discípulos: Porque é que ele come com publicanos e pecadores?... Jesus respondeu-lhes: eu não vim chamar os justos mas os pecadores!"

 

Jesus Cristo, pelo seu desafio das convenções e da morte, era certamente louco. Isso mesmo concluirá Moria (Loucura, em latim) no "Elogio". Como se, parafraseando S. Paulo, dissesse que a loucura de Deus é mais sábia do que a sabedoria dos homens.

 

As lembranças são como uma sobremesa de cerejas... com "champagne" a refrescar a gorja e a memória e as cerejinhas a puxarem por uma e por outra!

 

A esperança dos pecadores, levou-me de Roma a Washington, ao “Regresso do filho pródigo" do Bartolomé Murillo, exposto na National Gallery of Art. Não sei porquê, há nessa cena de um pai velhinho que se debruça para abraçar um filho suplicante, não só uma representação, quiçá edificante, da misericórdia de Deus. Há mais: há uma alegoria do Amor. Tout court. Como escreveu um grande poeta português: "Transforma-se o amador na cousa amada..."

 

Transforma-se, digo agora, o misericordioso no perdoado... A misericórdia - chamemos-lhe mesmo perdão - está na essência do Amor. Não é possível perdoar sem sentir o que é a sublime alegria de se ser perdoado. Não quero ser blasfemo: mas muitas vezes me ocorreu que a compaixão de Deus - esse sofrer (com os homens) que é a crucifixão e morte de Jesus e que se repete na eucaristia - é Deus que perdoa e pede perdão. É a única resposta possível à existência do mal. Fora disto, tudo é absurdo. Nem haveria ressurreição.

 

Também de misericórdia recíproca se alimenta afinal o amor humano. Recordo aqueles versos que há anos te escrevi:

     Amo a transparência  
     do teu olhar magoado
     e guardo em meu silêncio
     a memória desse olhar...
     e é tão bom tê-lo em mim
     assim guardado
     por muito que me pese
     o seu pesar:
     tão leve é o peso
     das penas partilhadas
     e tão manso e doce
     podê-las partilhar.


Camilo Martins de Oliveira

 

Obs.: Reposição de texto publicado em 01.02.13 neste blogue.