Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE GOLGONA ANGHEL

  


Na sala de leitura da insónia


Na sala de leitura da insónia,
quando o carro do lixo é
a única resposta ao silêncio
e cada instante é um amante
que matamos num abrir e fechar de pernas,
acompanho em eco, até à estação,
os passos apressados das empregadas de limpeza.
Para elas, não há inferno. Simplesmente,
evitam sonhar.
Para nós, o autocarro 738 irá sempre ao Calvário,
mesmo se pago o bilhete.


No horizonte lento mas seguro de uma utopia light,
passo o dia a vender o meu terceiro mundo
em colóquios e palestras internacionais.
Mostro a toda a gente o canino de ouro,
a minha pele de girafa,
a bibliografia em francês.


Escrevo a palavra vazio
depois da palavra espera.


Pouso as mãos sobre os joelhos cansados.
Limpa
mas mal vestida,
- olhai –
sou o novo modelo para o fracasso.


in Vim porque me pagavam, 2011


In insomnia’s reading room


In insomnia’s reading room,
when the rubbish truck is
the only answer to silence
and each instant is a lover
we kill in an opening and closing of legs,
I follow as an echo, down to the station,
the hurried step of the cleaning ladies.
For them, there’s no hell. They just
avoid dreaming.
For us, the 837 bus destination will always be Calvary,
even if I pay for my ticket.


In the slow but sure horizon of an utopia-light,
I spend my days selling my third world
in international conferences and talks.
I show everybody my golden canine tooth,
my giraffe skin,
the bibliography in French.


I write the word empty
after the word waiting.


I lay my hands on my tired knees.
Clean
but badly dressed,
– look –
I’m the new model for failure.


© Translated by Ana Hudson, 2011
in Poems from the Portuguese