Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE INÊS FONSECA SANTOS

  


As Coisas Lentas


Fumo demasiado depressa
o meu cigarro apagado.
Os cigarros fumam-se lentamente
ao espelho fixando um único dos nossos rostos.
Pois bem: na casa só nos cacos há reflexos. Os rostos suspendem-se
entre nós e nós, as letras das palavras. Os rostos aguardam-se,
observam-se, ao longe. E não há fumo que os evole.
Talvez por isso: nunca aprendi a acender um cigarro
por ser absolutamente desnecessário aprender a aprender a acender
um cigarro. Na casa onde tu fumavas
cada cigarro era uma letra. De cada vez que o filtro te tocava
os lábios eu perguntava: como te chamas? À superfície
do espelho, o teu vagar respondia-me
até ao esquecimento de nós.
Talvez por isso: tento acender um cigarro. Apago-o antes
que me chegue aos lábios.


Está frio neste lugar. A boca abre-se
como uma coisa lenta em forma de espanto.


in As Coisas, 2012


Slow things


I smoke my dead cigarette
in too much haste.
Cigarettes should be smoked in slow motion
next to the mirror, as we zoom in on just one of our faces.
As it is, in the house, reflections are only found on shards. Floating faces
between us and us, letters from words. Expectant faces
watching each other from afar. And no smoke can puff them off.
That’s probably why: I’ve never learnt to light a cigarette
because it’s utterly unnecessary to learn how to learn to light
a cigarette. In the house where you smoked,
each cigarette was a letter. Each time the filter touched
your lips I asked: what’s your name? On the surface
of the mirror, your vagueness answered me back
till we both drowned in oblivion.
That’s probably why: I try lighting up a cigarette. I put it out before
it reaches my lips.


This is a cold place. The mouth opens
sluggishly, rounded in bewilderment.


© Translated by Ana Hudson, 2013
in Poems from the Portuguese