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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CINCO POEMAS - E


1
Se se pensa nas razões da vida
Ela a morte é cabeça velha que labuta
Num ofício em que o tempo finda de rompante
Ou ela não gostasse de se interpor às conversas e impor-se só querendo falar

Daquilo que chama

Daquilo que está escondido atras da sua língua
Linha reta que todos cumprem
Quer sejam os do berço do início ou do fim
Quer sejam os que olharam o mar
Ou os que não conheceram caravelas ou voo ou glote de sal

Alarga-se
Sim
Forçosamente o diálogo à morte e ao dirigir-lhe palavra alguém passou a ser

Outra voz

Como a daquele verso que exaurido da cova cantou

Ó morte não mataste tu da vida um lugar de mães
Nem o poeta no vivo audível
Nem o amor que foi único nome de si


2
Houve um tempo vivido por detrás das janelas
Houve um tempo aplanado que de tão plano se convertia
Na rampa da fuga quando se sabia que os peixes ajudariam
Ao lance do mar e onde se esperava o barco- salvação
O primeiro de muitos que implicariam ofícios vagos e muito sofridos e de novo
O carteiro junto ao portão de ferro entregava a carta por entre as grades
E sorria como uma armadilha ou não soubesse que o remetente

Era uma paisagem aparente nem benigna nem mortal


3
Também chega o tempo de cuidar das memórias e das gerações
Que nos ensinaram as cantigas que descobriam o segredo dos ovos nos folares
Quando tudo era tépido antes do meio-dia
E eis

Que um dia uma flor se suicidou atando cuidadosamente
O caule à corda e ali se deixou estar de olhos abertos à casa
Cheia de luzes presas sob empenas que sustinham estonteadas esperanças
Tateando a nossa pele na vigília ao centro das infidelidades

Mãe minha
Que não sei se falo de magias ou inocência


4
Também se levam nos braços muitos filhos desconhecidos

Infindamente
Vai-se dizendo com a suavidade do embalo
Que eles devem sonhar com o mar
Com aquele mar sem princípio nem fim e que mesmo quando vento é mar
No sonho e no caminho
E até tem pinhal de pinhas e pinhões que adivinham
A hora

Em que a vida dos afetos que nos dão é bela e pobreE p

edra-insónia feita de cordão umbilical


5
Às vezes parece um muro imenso que avança e tapa a estrada
Caminha-nos para o contrário das nascentes e dos comprimidos que nos retiram a dor
Enfrenta-nos com o seu corpo pardo e duro e inclemente e logo te abraço
Amor meu
Pois que morra eu e te deixe à guarda de um palácio que te fiz
Com mantas de plumas de pássaros
Daqueles que em ti sempre festejarão
As núpcias por te terem visto nos seus casamentos e tanto bastou

Para criarem aquela canção-périplo que mesmo adormecida ou já não aqui

Eu para ti
Ela e tu

Teresa Bracinha Vieira

Obs. Poemas revisitados.