CRÓNICA DA CULTURA
Uma viagem para o esclarecimento
Sabes filho, dantes os bancos serviam para as poupanças. O pai trabalhava e tudo o que podia poupar ia colocar no banco para que, no futuro, pudesse ter um pequeno descanso que fosse. O banco agradecia este meu procedimento e pagava-me uns juros pelo dinheiro que eu lá lhe confiava. Contudo, filho meu, quando te digo que os bancos serviam para as poupanças, quero dizer com isto que os bancos não serviam propriamente para emprestar dinheiro, quase tão só guardavam o que era nosso. Digo-te mais: se alguém me explorou no trabalho foi o meu patrão, mas nem nunca achei muito isso, pois lá nos ia aumentando o salário quando tinha mais lucros. Tive alguma sorte com ele, é certo, mas era tudo diferente do que é hoje. Agora, agora, são os bancos que exploram diretamente os trabalhadores emprestando-lhes dinheiro. Imagina bem! E têm muito êxito com essa exploração. Ganham balúrdios e pouco gastam a seduzir os que menos têm. Basta perceberem o que tu queres, necessites tu ou não do que julgas querer.
Olha filho, só te digo: tu nunca aceites cartões de crédito que os bancos te dizem ser um oferecimento. Isso está tudo engatilhado num processo que te não sei bem explicar, mas se aceitares um cartão de crédito, isso é uma descida aos infernos, e se já tiveres outros empréstimos, então os bancos vão tirar-te fatias grossas e cada vez maiores do teu salário para pagares todas as dívidas que lhes deves, e nunca conseguirás poupar nada, nem conseguirás sequer fazer face ao teu mês, e serás mais um a seres usado como um fraco, e eles, a engordarem com o teu trabalho.
Filho: aqueles que trabalham hoje, têm uma atitude muito diferente do que se passava há trinta ou mais anos. Os trabalhadores de hoje não compreenderam ainda que o crédito foi o que lhes alterou o comportamento, e, de tal modo que lhes destruiu o que tornava as pessoas mais unidas: refiro-me ao trabalho, ao trabalho que mantinha os homens mais unidos.
Digo-te: tenho tanto medo que venhas a trabalhar para teres o teu cartão de crédito, para pagares a hipoteca da tua casa, para teres saldo no telemóvel, para ires de férias, para comprares tudo o que achas que te faz feliz, e sem dinheiro, nem interesse pelo teu futuro, ou gosto pelo teu trabalho, não faças tu aquela viagem para o esclarecimento, aquela que o teu pai não te sabe explicar bem, mas sabe que até te colocam de joelhos e te deixam no lixo se a não fizeres.
Teresa Bracinha Vieira