A FORÇA DO ATO CRIADOR
O Upper Lawn Pavilion é uma casa meteorológica.
“Here, it is enough to say it is a pavilion in a compound, surfaced half by paving ‘as found’ and half by lawn; a pavilion in which to enjoy the seasons; a primitive of solar-energy pavilion whose thin skin forms a new space against the thick mansonry north walls of the original eighteenth-century and earlier farmstead cottages.”, Alison Smithson (Smithson 2001, 238)
O Upper Lawn Pavilion (Alison e Peter Smithson, 1959-1962) é uma casa/abrigo aberto a todas as estações, à verdade dos materiais, ao desenrolar das actividades quotidianas, à circunstância e à história e forma do lugar.
O Upper Lawn Pavilion através das formas mais simples, de pátio e de pavilhão, tenta responder às necessidades humanas mais básicas - que devem incluir ter um tecto e vista do céu e ter acesso a um pedaço de terra no meio da natureza.
Na publicação “Upper Lawn Pavilion. Alison and Peter Smithson” de Nicholas Oslington (Kingston University) lê-se que o Upper Lawn Pavilion é uma casa/pavilhão experimental. Alison e Peter Smithson usavam os projectos das suas casas para testar novas ideias, novos materiais, novas técnicas e novas formas. E o Upper Lawn Pavilion é uma espécie de símbolo da habitação mais precária e primária. Os Smithsons consideravam os princípios modernistas, sobretudo no que dizia respeito a materiais e técnicas, mas tentavam não esquecer que a arquitectura era um meio para a vida acontecer. Oslington clarifica que os Smithsons encontravam na tensão entre a cidade e o campo a energia necessária para desenvolverem o seu trabalho.
Oslington explica que, em 1958, Alison e Peter Smithson compraram o terreno onde se iria instalar o pavilhão. Uma pequena casa e o seu jardim erguiam-se na propriedade do Fonthill Estate em Wiltshire. Através dos conceitos “picking up, turning over e putting with” (captar, revolver e trabalhar com) os Smithsons concretizaram o conceito de ‘pátio e pavilhão’ neste projecto.
A pequena casa que existia colava-se ao muro norte. A posição periférica e marginal da casa oferecia a melhor vista possível de toda a circunstância envolvente. A casa era o momento charneira entre a paisagem e o jardim murado. Os Smithsons destruíram a casa e deixaram só a chaminé e os muros circundantes.
O pavilhão foi concebido para se situar no mesmo sítio da antiga casa - em torno da chaminé - e para materializar os princípios mais elementares de habitar um espaço. A caixa quase transparente, que constitui o pavilhão é toda construída em madeira, vidro e zinco e ocupa metade do comprimento e do volume da antiga casa.
O projecto do pavilhão manifesta o desejo de construir sem invadir, de formar sem ser concreto, de se ligar ao deixar passar a luz, de proteger ao receber as estações do ano, as mudanças do tempo, o dia e a noite. O pavilhão é um abrigo que permite uma contemplação constante, uma constatação permanente do banal, ao abrir-se com panos de vidro para o jardim e para a paisagem.
É por isso, uma casa com uma forte ligação ao contexto, à história do sítio e às condições existentes. Toda a envolvente é delineada pela vegetação - esta separa, abriga e determina percursos. Os Smithsons desejavam projectar de modo a revelar o que já lá existia (uma casa no muro e um jardim), como se tudo permanecesse intacto. O pavilhão ao ser de madeira, de vidro e de zinco parece pertencer ao muro desde sempre. Os Smithsons, ao deixarem uma das janelas da antiga casa pertencer ao jardim, transmitem o gosto pelo existente e pela realidade daquele específico e determinado lugar. É como se tudo se reduzisse a um jardim, ora aberto ora fechado. Os materiais formam forte relações com o existente e assim o pavilhão transforma-se num só com o muro, num só com o jardim. O vidro e o zinco reflectem o céu. A madeira toma a cor da pedra.
“…the once light, shiny materials merged with the weighty peace fulness of the stone wall” (Alison and Peter Smithson, “The Pavilion and the route”, 1965)
Dentro da casa tudo se abre para o jardim - mais recolhida está a cozinha e a casa de banho. O pavilhão flutua sobre a chaminé e o muro. O pátio foi o elemento preexistente maior e foi deixado tal e qual foi encontrado.
O pavilhão é assim simultaneamente um lado e o outro, o novo e o antigo, o dentro e o fora, o jardim e a casa, o barulho e o silêncio, a natureza e o artificial, o aberto e o fechado, o público e o privado, a acção e a contemplação, a introspecção e a extrospecção.
Para os Smithsons o pavilhão é uma casa meteorológica, é um espaço solar. É um lugar de retiro, de reflexão e de experimentação. É um lugar com distância suficiente para se reavaliarem pensamentos. É um espaço que permite a existência da criação, da descoberta e do existente. É um espaço dual que, ao mesmo tempo, permite o contacto com o produzido e o articificial e com o natural, o cosmos e o desconhecido. Para os Smithsons, o Upper Lawn Pavilion representa “a place made idyll: a dream of a stress free way of life.” - UCLPress
O pavilhão é assim tempo humano, em directo contacto com a natureza. É objecto fragmento que faz parte de um contexto maior. É protecção, é fronteira que faz parte de um enclave e que liga mais do que separa. É consenso e não confronto.
“The Solar Pavilion, Upper Lawn, Wiltshire, 1959-1962 holds the core ideas of a Janus Face building. It is both a look-out over the distant landscape on the north façade, sitting on top of the existing cottage wall, and a garden pavilion.”, Jonathan Sergison, Stephen Bates (L’ Architecture d’Aujourd’hui, 344, 2003)
Ana Ruepp