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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICA DA CULTURA

OS INVISÍVEIS

  

 

A natureza dos homens permitiu-se criar um tipo de indivíduos ocultos.

Assim, um novo género de ser, vagueia agrilhoado à agonia, e receia que sua falência perturbe os olhares dos estabelecidos, daqueles que não respondem por qualquer responsabilidade que os vise.

Milhares e milhões de pessoas são então, invisíveis de muitos modos.

Escandalosamente, ossos viventes, almas sob pedras de moer.

A civilização não modificou o grau de sofrimento em que decorre a vida humana.

As diferenças de pormenor de cada um são lidas como indícios da subcasta do vizinho.

Desenvolveram-se egoísmos implacáveis que premeditam a obtenção de privilégios enquanto celebram pardas liturgias.

Tornou-se também mercado natural a venda de órgãos como um desígnio de vida que salva o dia, enquanto outras gentes, mal se distinguem de um robô e outras tantas são mercadoras de compulsão golémica.

Os joelhos dos seres ocultos que estão a ser, rastejam até ao assassínio, única forma de morrer.

Desce pedra

sobre pedra,

rafeira e aguda

e emporcalhada de uma cola

que fecha o mundo

infetado por dentro,

confinando-o ao interior das ruas

de chão e água sujas. O arame,

- ferruginoso-

é propício

a extirpar os dentes

que deixam de rosnar à

teoria das ideias, mas sabem

os invisíveis,

 

que o sol

nunca se curvará.

 

 

Teresa Bracinha Vieira