CRÓNICA DA CULTURA
OS INVISÍVEIS
A natureza dos homens permitiu-se criar um tipo de indivíduos ocultos.
Assim, um novo género de ser, vagueia agrilhoado à agonia, e receia que sua falência perturbe os olhares dos estabelecidos, daqueles que não respondem por qualquer responsabilidade que os vise.
Milhares e milhões de pessoas são então, invisíveis de muitos modos.
Escandalosamente, ossos viventes, almas sob pedras de moer.
A civilização não modificou o grau de sofrimento em que decorre a vida humana.
As diferenças de pormenor de cada um são lidas como indícios da subcasta do vizinho.
Desenvolveram-se egoísmos implacáveis que premeditam a obtenção de privilégios enquanto celebram pardas liturgias.
Tornou-se também mercado natural a venda de órgãos como um desígnio de vida que salva o dia, enquanto outras gentes, mal se distinguem de um robô e outras tantas são mercadoras de compulsão golémica.
Os joelhos dos seres ocultos que estão a ser, rastejam até ao assassínio, única forma de morrer.
Desce pedra
sobre pedra,
rafeira e aguda
e emporcalhada de uma cola
que fecha o mundo
infetado por dentro,
confinando-o ao interior das ruas
de chão e água sujas. O arame,
- ferruginoso-
é propício
a extirpar os dentes
que deixam de rosnar à
teoria das ideias, mas sabem
os invisíveis,
que o sol
nunca se curvará.
Teresa Bracinha Vieira