CRÓNICA DA CULTURA
PARA ONDE VÃO AS NUVENS DORMIR
Um dia, disse o bom feiticeiro, um dia estive presente numa reunião de nuvens.
Sempre soube que o importante esteve e está na natureza, e por isso senti-me privilegiado pela disponibilidade delas ao meu espírito, naquele dia.
E logo perguntei:
Se fizer um buraco no céu, onde vai ter do outro lado?
As nuvens, atalharam de imediato:
Para que queres saber ó feiticeiro? Já entendes o teu lado? O que viste e até onde chegaste? Conheces tu as constelações vegetais?
Respondi:
Posso estar longe de muita coisa, sim, mas também só agora falo convosco, e quero muito saber o que há para lá do tal buraco para eu decidir viajar. Como sabem, a terra está a ficar apertada e eu não sei se o meu feitiço é poderoso o bastante para não carecer de astronave. Sou pobre, sou muito honesto; afinal nunca fiz ouro, bem o sabeis. Também queria que me dissessem como não me perder no meio do céu e ainda se haverá janelas envidraçadas de onde possa eu ver-vos, no vosso mundo, lugar de harmonia, por certo, com a vossa magia e Deus…e meu feitiço?
As nuvens agruparam-se à minha volta dispondo-se em figuras e logo:
Feiticeiro, ó feiticeiro, quantas perguntas, quantos desejos e tão diverso te reconheces! E, se te dissermos que podes não regressar de lá, do outro lado do buraco no céu. Altera em ti alguma coisa? E a tua bagagem, está pronta? Que levas para oferecer? Mundo teu, tão distinto, belo e tão grávido? Então cuida o que logo chegará aos teus ouvidos:
«Senhor descobridor, senhor feiticeiro bom, sabemos que estais exausto de tanto nos trazeres, de tanto nada nos pedires, de tão maravilhoso seres e de tão impoluto, nem a palavra lixo, conheceres.
Senhor descobridor, senhor feiticeiro bom, temos conhecimento que todos vós sois feiticeiros bons, maus e também do talvez, e que tu - como os outros -, vives na tua tenda, aquecida pelas tuas doutas e merecedoras opiniões, e que inesperadamente te oferecerás à ciência, a fim de nos acrescentares felicidade e quadros mentais tão generosos à existência e aos poderes da razão, que, de ti a ti, afinal, a viagem é curta. Bem te compreendemos, senhor descobridor, senhor feiticeiro bom, mau ou do talvez, mas deixai, deixai-nos descansar um pouco da tua realidade. Fostes bem-vindo a esta nossa reunião, mas a noite em nós é a melhor conselheira para as decisões.»
Sim, ide repousar, aguardo-vos, não vos inquieteis, sou superior às minhas dependências, mas antes, dizei-me para onde vão as nuvens dormir?
Teresa Bracinha Vieira