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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

NATAL


As paredes eram de pedras sobre pedras que já mal se aparelhavam, e por entre elas, as frinchas largas, sem qualquer argamassa, permitiam que entrasse luz e frio, naquele dezembro de rigor. O telhado de ardosias partidas mal continha as águas do céu. Dentro e por cima do chão de terra pisada, os acrescentos de bosta e palha e erva entrançavam coroas que formavam cama de escasso recurso, e os restolhos e os restos não úteis de algo cardado, tudo emaranhado, arredondavam-se em jeito de um cesto muito aberto e amplo, que se oferecia daquele modo que mais não pode.

Ali o universo do asno e das vacas na exemplaridade da lição quando só o silêncio é certo.

Ali a experiência de cada um.

Ali o lugar de um pão maior.

Descalça, Antunes entrou, entrou, fechando de arrasto a velha porta atras de si. E entrou, sabendo que Manuel lá a aguardava, também descalço, de traje sujo da labuta, mas ambos conhecendo a verdade da hora venturosa, conhecendo o destino de cada um nas mãos do outro.

Deitaram-se, deitaram-se, parecendo-lhes que eram os primeiros do mundo a chegar àquela felicidade, e logo se confiaram.

Beijos, abraços, sussurros e outras bênçãos, tudo um merecimento de quem entende o início, e logo as roupas foram afastadas dos corpos, enquanto ali tudo era terra à terra, e a barriga logo cresceria numa vontade de brilho assombroso seguro nos olhos do casal.

A malga de água, mal fora trocada e os lábios já mordiam o rebordo.

A hora, era a da hora da dor boa.

O pensamento alegrava-se com o mistério seguro pelo grosso novelo umbilical.

A estrela, veterana destes aconteceres, quiçá voltou pelo mesmo caminho, anunciando que na manjedoura um outro primeiro choro.

Natal.

 

Teresa Bracinha Vieira