CRÓNICAS PLURICULTURAIS
130. RITUAIS
De rituais é o fim de ano.
Uma expetativa que se renova.
Balanços, soma de rotinas consagradas por costumes, tradições, hábitos ou normas que devem ser executadas, de modo useiro, uma vez por ano.
À meia-noite da passagem de ano, arremessasse mentalmente o futuro pensando doze desejos ingerindo, por exemplo, outras tantas passas, uma por cada mês.
Há quereres, promessas de mudança, aspirações a outra vida para viver, organizar melhor o que está sempre em construção ou num caos permanente.
Votos assumidos de metamorfose, tentando saciar uma necessidade de mudança de vida, individual ou em comunidade, festejando rituais em que é preciso acreditar ou fantasiando admiti-lo.
Queremos ser arquitetos da nossa vida, no que depende da nossa vontade, sabendo não o conseguimos sós, porque interdependentes.
Num sentido figurado rituais são rotinas, mesmo uma só vez por ano.
Segundo Yuval Noval Harari, num tom erudito, são passos de magia que tornam o abstrato concreto e o ficcional real.
Queremos estar em permanente mudança, a todo o tempo em construção, suportando voluntariamente uma dose considerável de formalidades, etiquetas, cerimoniais, presumindo ou julgando-as necessárias, em conjugação com o gradual progresso da natureza, sob pena de, se incapazes para tal, nos divorciarmos dos impulsos vitais do ambiente com que interagimos, quais flores que murcham.
Como num permanente ritual e querer de que “Este ano vou mudar, prometo!”, mesmo se apenas vontade de sentir que há esperança de mudança e nada se altere, tendo como adquirido que um quinhão aceitável de aborrecimento ou rotina do dia a dia é parte do nosso viver.
30.12.22
Joaquim M. M. Patrício