A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
XCII - VARIANTES E COOPERAÇÃO
Contrariamente a um pensar usual o inglês, o francês e o espanhol também apresentam grafias diversas para a mesma palavra, várias opções lexicais, expressões e frases de imediato não acessíveis a um falante de outros países, inovações sintáticas que ocorrem em línguas globais faladas em diversos continentes (ou extremos do globo) sem comunicação no dia a dia, não o sendo exclusivo do português, e nada disso exclui o seu uso ou impede a sua aceitação.
Seria surpreendente, por exemplo, que não houvesse diferenciação entre a variante do inglês falada no Reino Unido, Estados Unidos, África do Sul, Índia, Austrália e Nova Zelândia, a do francês falada em França, no Quebeque (Canadá) e em África, o mesmo sucedendo quanto às tradicionais variantes portuguesa e brasileira (sem esquecer a africana, ainda no começo).
Se todos estes idiomas apresentam realidades similares em relação às suas variantes, é pertinente estudar estes fenómenos a nível interno e no espaço natural em que se integram (anglofonia, francofonia, hispanofonia, lusofonia), sendo-o desaconselhável a nível político internacional, uma vez enfraquecer a sua afirmação, funcionando essencialmente como um argumento contra quem o levanta.
É uma questão que aparenta ser tida como um problema “inultrapassável” para o nosso idioma, não só interna e, mais grave, que se exponha externamente, não constando que internacionalmente os responsáveis falantes dessas línguas, tão globais como a nossa, promovam que se ponha à vista, em público, esse assunto. Parece que só para o nosso idioma é relevante, quando factualmente não é, com a agravante de, politicamente, em termos internacionais, ser desvantajosa para o português.
É necessário um empenhamento em dar do português uma imagem de uma língua internacional comum que não compete ruinosamente intra muros, vincando mais o que a une do que as diferenças, o que não impede campanhas de sensibilização dos seus falantes em vários países para as especificidades das variantes europeia, americana e realidades culturais e transcontinentais diferentes.
Há quem entenda que o Brasil nunca se interessou suficientemente pela promoção do português, em proporção com o seu peso e número de falantes, sendo premente a sua colaboração e cooperação para travar o nefasto tipo de posicionamento que pode ser aproveitado pelos organismos internacionais para travar o seu uso efetivo, escudando-se em questões ultrapassáveis, como saber que norma ortográfica ou variante usar.
Quando um dia, por direito próprio, o Brasil integrar o Conselho de Segurança da ONU, abrindo caminho ao português como língua oficial, há que, antecipadamente, e desde já, todos os países lusófonos e os lusófilos em geral cooperarem reciprocamente (e não em conflito) para que isso suceda, vincando menos as diferenças que o comum que os une, a começar pela língua.
Evidenciar mais as diferenças que o global que as une, é prejudicial para a afirmação e expansão da nossa língua, enfraquecendo-a por confronto com os outros idiomas internacionais, por maioria de razão no plano externo.
27.01.23
Joaquim M. M. Patrício