CRÓNICA DA CULTURA
Uma ave que antes soubera cantar
A maioria das principais descobertas da história não foi feita por pessoas que não acreditavam em descobertas.
Na realidade, os seres humanos têm capacidade de encontrar maneiras de inovar percursos, imaginar mesmo construir a sua própria história como se, desde o prévio ao que são, tivessem sabido voar, antes mesmo de conhecerem as aves e delas o seu canto.
Por que razão hoje até surge como contraintuitivo imaginar futuros criativos de mudanças, sem as quais, afinal, os seres humanos serão sempre pouco livres?
Fora do nosso controlo moldam-se coletivamente destinos de liberdades ilusórias, enquanto se dança uma dança fora do alcance último do entendimento da mesma.
As próprias tecnologias determinam grandemente a configuração que as sociedades adotarão nos tempos vindouros, até que, algo abrupto, imponha que elas visem criar possibilidades sociais, que não existiam antes, e que, sobretudo, beneficiam os seres.
Com frequência se assiste, de jeito meio desamparado, ao entender das necessidades das mudanças que vão resistindo como podem à ideia de ruturas.
Com frequência se desconhece que esse compreender se acumulou ao longo dos tempos, sobretudo nas mulheres, numa interminável série de descobertas bem representativas, não obstante, a humildade com que foram sempre expostas.
Este saber das mulheres é tão profundo que ainda hoje enriquece as vidas de milhões de seres, mas como é um saber que faz o pão, e lhe dá o tempo do levedo, conhece exatamente a hora da mudança dos ciclos.
Assim, as mulheres, aves afinal que escutavam os voos das aves antes de as conhecerem.
Assim a necessidade de inovação de uma sociedade que, qual ave que antes de o ser soubera cantar, e, em última análise, uma das maneiras de melhor representar a nossa espécie, arroja outras possibilidades sociais que podem fazer surgir muitos dias do sim!
Teresa Bracinha Vieira