CRÓNICA DA CULTURA
O inevitável parece demorar a ser menos inevitável
Se um dos efeitos colaterais dos modos de vida incultos é o de que a falta de liberdade não acarreta um desafio sério ao pensamento, é porque, enfim, não nos desviamos muito do ponto de partida.
Cremos que fomos todos catalogados como sociedade segundo os nossos meios de subsistência, e sempre em posições hierarquizadas, descurando a abrangência de complexidades que, admitimos, foram atentas a um grupo de investigadores que ou não as partilharam aos colegas, ou não as conversaram com as pessoas.
Desde a década de 80, afirma-se que vivemos uma outra era «pós-moderna» e por ela se justifica a hiperespecialização, que muito leva à cegueira do imensurável restante à volta dos homens.
Em resultado de tudo isto, a história continua a expor relativas liberdades e relativas democracias, conquistas imperialistas e trabalhos de escravatura, desigualdades sociais fundas, desmedidas pobrezas, domínios violentos e fome e abandono e solidão, indiferença e sofrimento, numa ausência total de formas de vida dignificante e tudo em consequência de um processo que está a revelar-se difícil de ser eliminado.
O inevitável parece demorar a ser menos inevitável.
A percentagem de jovens e idosos profundamente infelizes, são a melhor realidade de que na idade do meio, algo funcionou ou está a funcionar mal, e que se continua a não preparar terrenos aráveis no reino dos homens.
Os homens crescem em número, mas o número de homens mais livres e com maior possibilidade de habitarem um planeta menos destruído, até ambientalmente, não constitui uma esperança.
Há que desmontar as armadilhas que favoreceram as doenças endémicas das políticas do mundo; há que pegar em formas de vida aperfeiçoadas a cada dia pelos homens em autocrítica, percebendo os erros e corrigindo-os, e sobretudo, acreditar que as lágrimas brancas não são necessariamente de sangue, mas também brancas de pureza e força contra a barbaridade dos valores burocráticos instalados.
Fanfarronices, egos, duelos, vaidades, selvajarias, desafetos, egoísmos insanos, não passam de formas de guerra cujas gordas franjas já foram detetadas fora dos tradicionais terrenos das bombas.
Não há, pois, que seguir em frente sem nenhuma alternativa.
Desde logo há que recordar o adágio mongol, «conquistar o mundo a cavalo é fácil; o difícil é desmontar e governar».
Teresa Bracinha Vieira