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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

A FORÇA DO ATO CRIADOR

  


O espaço das casas de Tokyo Style é aproveitado até ao limite, como uma colagem, ao máximo.


“Most expensive apartments are boring because they’re all the same, but in small apartments you can’t hide your personality.”, Kyoichi Tsuzuki In Apartamento Issue #20, 2017-18


No início dos anos 90, Kyoichi Tsuzuki começou a fotografar apartamentos pequenos, apertados e desordenados, em Tóquio. Tsuzuki visitava casas de amigos e também de estranhos. Com a publicação do livro ‘Tokyo Style’, há 30 anos atrás, Tsuzuki produziu um retrato real e raro que explora o que está fora dos limites do bom design. Estes interiores não são minimalistas, nem perfeitos como aqueles retratados nas revistas, e nem o pretendem ser.


É a exploração de um quotidiano marginal e uma ode ao maximalismo. O livro ensina-nos a ver para além do ideal, do esperado, do aceitável e do correto.


Tokyo Style
é um pedaço de objetividade, que mostra a verdadeira escala humana que um espaço pode ter. O espaço de repente é de alguém e só desse alguém - porque é apropriado, delapidado, pintado, (re)interpretado, encerrado, preenchido e atulhado. Estes espaços fotografados em Tokyo Style parecem ser a continuação de um eu. São reflexo do que é falado, pensado, tocado, vestido, comido. Tsuzuki, propositadamente, fotografa só o espaço da casa, nunca ninguém aparece. Ainda assim sente-se intensamente a presença física dos que aí habitam - a roupa pendurada, a cama desfeita, os papéis acumulados, os desenhos nas paredes, as passagens estreitas, as portas que não se podem abrir, as janelas cobertas…


“We live in homely woodframe apartments or mini-condos crammed to the gills with things.”, Kyoichi Tsuzuki In Apartamento Issue #20, 2017-18


O espaço aparece, neste livro, como servidor, como contentor, pronto a ser individualizado, pronto a ser mais uma coisa por entre tantas outras coisas. É um espaço adaptável, manipulável, maleável, que se deixa convencer e que é dócil, de tão tangível que é. A suspensão da liberdade provocada por um espaço deixa de existir por momentos.


Através destas fotografias apercebemo-nos que cada pessoa tem uma forma particular de encontrar e de construir o seu conforto. E esta procura é uma escolha que não obedece a algoritmos, nem a ideias estandardizadas. É uma procura que tem de estar ao alcance de um instante, dos sentidos, do movimento e da forma de um corpo.


O espaço das casas de Tokyo Style é aproveitado até ao limite, como uma colagem, ao máximo - este espaço, todo o espaço (chão, parede, teto) e não outro, como que obedecendo a um processo de pura aceitação do que se tem, sem arrependimento e que até pode falhar.


“Bookstore shelves are lined with more publications on ‘Japanese Space’ than you’d ever want to see… But how many of these places look lived in? That’s because what these books show are the co-creations of known architects and photographers, or else very skillful presentations of designer products.”, Kyoichi Tsuzuki In Apartamento Issue #20, 2017-18


Este livro mostra, através de uma honestidade inesperada, que a vida de todos os dias não se transforma num espaço estéril. Estende-se porém na singularidade de cada apropriação, de cada erro e de cada contorno: “It’s your choice to live in a cluttered space or live in a simple space. But I don’t like the view that living in a clean, simple space is intellectually superior to living in a small, cluttered space.”, Kyoichi Tsuzuki In Apartamento Issue #20, 2017-18


Ana Ruepp