CRÓNICA DA CULTURA
O pregão das virtudes
As formas básicas de poder social que podem operar à escala da família ou a tipos de ampliação de domínio político, apregoam amiúde as virtudes das suas opções de estar, seguros de que a verdade que está sempre deles mais próxima, apesar de nunca afirmarem expressamente tal assunção de vizinhança.
O modo como cada um desenvolve o seu eixo de poder social, assemelha-se, muitas vezes a uma espécie de torniquete de uma ordem que muito tem de administrativa, supervisionando tudo o que lhes pode interessar com o juízo único e convicto, de que será mau se lhes escapar alguma avocação.
Na medida em que o pregão das virtudes se pode passar a fazer por silêncios tácitos ou preposições q.b., ou até expresso pela boa educação, pelo almoço oportuno e outras tradições, e desde que deveras se creia ser inquilino ou proprietário, pela via mais confortável, dos princípios pela maioria aceites que logo as concordâncias aos centros de poder se estabelecem em paz e em mútuos mimos.
Esta postura é outra das que mais expõe a aceitação e a conveniência do pregão das virtudes.
Ao aprofundarmos esta questão, verificamos que a mesma combinação de características se encontra no mesmo perfil de gentes, não se questionando por que razão tem de ser assim para que tudo funcione, e sendo que deste modo, o que funciona, é o decorativo debate sobre a desigualdade nas sociedades, admitindo, expressamente ou não, que tudo o que é altamente problemático sempre se manterá.
Então, uma resposta possível ao pregão das virtudes é o de o confrontar com a similitude do poder, mas aquele mesmo poder que paga ao barbeiro para cortar o cabelo ao escravo, ainda que depois o alimente.
Este, afinal o compromisso do conteúdo do pregão.
Teresa Bracinha Vieira