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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POESIA

  


8.

Também sou guarda-livros dos sonhos,

neles vou recriando alvoradas às quais me converto

e ainda que de poucas me recorde, estão escritas

todas, todas alinhadas

como os números a somar,

e ao mínimo gesto,

o que delas colho,

é a exata noção de que tudo em mim tende a ser

algo até à medula da alma,

sonhe eu o que sonhar,

minha púrpura ideia,

adentro, adentro


9.

Quando tudo é tendência para ser

a seguir outra coisa,

o desassossego não prende,

é.

Muitas vezes, tudo me interessa,

lá no meu retiro ermo,

e escrevo, escrevo como timidez que se sente grande

e sirvo-me aos consumos dos contrários.

É, muitas vezes, assim: saio de mim

e encontro-me como numa outra feição da minha vida.

Só a minha própria emboscada me percebe

quando nem posso ter a certeza poente

das camélias,

ou explicar a razão sensível

que me pedem


10.

Quanto mais diferente dos outros me sinto,

mais recordo o ontem do hoje

e até falas minhas de leitura única

que em literatura se desrendaram num chão,

do qual disto.

Algures, o sono de infância

- branquinho –

lembra-me aconteceres tão definitivos,

tão do lado de cá da minha estrada

que logo me sinto liberta, perdida,

folha,

não árvore,

mas perto de ti


11.

De novo, na consequência do luto,

nasce um abismo.

Resta erguermo-nos acima do nível dos dias

numa hipótese mais segura,

mais clemente do se algum dia me suceder,

estou mais firme, mais livre, mais eu consigo

sair de dentro deste cofre que achei proteger-me

e me impede, afinal,

a felicidade que não procuro.

Recomeço, então, a viagem,

de novo, de onde parto dando outro passo

da já adquirida habilidade

dos marçanos princípios.

E assim me balanço no balouço

ao qual chamei

ver as coisas


Teresa Bracinha Vieira