POESIA
12.
Também se pede à vida
umas partes de sol,
uma tranquilidade
sem exigências
e sumo e pão
e um quieto de palavras
que digam o que as almas sentem.
Depois
a guia de remessa dá volta ao mundo
e regressa sem compreender
o mesmo amor
13.
O espelho do quarto
ergue-se para quem entra,
segurando-lhes o pó embrulhado nos olhos
secos que o fitam.
A pura resistência da imagem que devolve,
evoca
o sentido de ideia,
a coragem do debruço
que não é paralelo
14.
Às vezes é tão momento
que os deuses se calam,
os santos suspendem-se,
é feriado no interior das revoluções
e os comboios seguem num para cima,
sempre para cima, levando todos os quase irreais.
O beijo,
sozinho no com o outro,
realiza-se
15.
Todos também decadências e casas assentes na derrota;
todos cruzados no desfilar na vida, dourados, amarelados, mendigos;
todos consequência e critério de coisas intraduzíveis;
todos maus lenhadores das romarias do erro;
todos cauda e manto da morte;
todos vestidos de exílio;
todos ainda nem chegados ao meio-dia;
todos farrapos de sobretudos;
todos criança sem mácula da realidade;
todos, de novo pasmados, quase humanos:
todos
à porta de qualquer coisa,
à porta do sem dúvida
de bicos de pés, à cata da discutível janela
que demora
pois
Teresa Bracinha Vieira