Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POESIA

  


16.

Parecem canários

aquelas crianças no jardim,

parecem flores a brincar à apanhada.

O céu, entreaberto no podem sair e reentrar

que é vossa a bênção,

demora-se tanto que adormece,

prolongando-se em tranquila substância naquele bulício

que é óvulo fertilizado

quando tudo é ao mesmo tempo,

antes que uma outra realidade

aconteça


17.

Os sonhos topam os homens

quando dizem que ainda ninguém lhes disse, nem eles,

aos eles mesmos, de para si no si dentro

que eles são coisa bem diferente do que podem

comportar no azul a que se propõem,

no desassossego – e, ai de mim!

Logo, os sonhos têm de se proteger e para serem desejados,

tornam-se noutros:

vagos, confusos, esmerados na substituição da realidade

tolerantes, religiosos, cata-ventos, inteligentes,

amorosos, experientes, apregoadores de não sei que coisas

em que se destacam,

e ei-los incapazes de qualquer rejeição

frontal.

Estes sonhos,

agora assim,

sociáveis às gentes,

são sonhos reformados de tudo,

pensionistas da recruta de sempre, normais, vaidosos, resignados,

esperançados até,

comerciáveis, escolhidos só para sonhos, cardápios,

permanentes antecansaços, desistências, desilusão nas prateleiras por ordem humana.

E entre este tanto, os sonhos iniciais, aqueles que topam os homens,

irmanam-nos,

assistem ao fecho das contas

e entregam-se, perguntando-se

ao poema


Teresa Bracinha Vieira