POESIA
16.
Parecem canários
aquelas crianças no jardim,
parecem flores a brincar à apanhada.
O céu, entreaberto no podem sair e reentrar
que é vossa a bênção,
demora-se tanto que adormece,
prolongando-se em tranquila substância naquele bulício
que é óvulo fertilizado
quando tudo é ao mesmo tempo,
antes que uma outra realidade
aconteça
17.
Os sonhos topam os homens
quando dizem que ainda ninguém lhes disse, nem eles,
aos eles mesmos, de para si no si dentro
que eles são coisa bem diferente do que podem
comportar no azul a que se propõem,
no desassossego – e, ai de mim!
Logo, os sonhos têm de se proteger e para serem desejados,
tornam-se noutros:
vagos, confusos, esmerados na substituição da realidade
tolerantes, religiosos, cata-ventos, inteligentes,
amorosos, experientes, apregoadores de não sei que coisas
em que se destacam,
e ei-los incapazes de qualquer rejeição
frontal.
Estes sonhos,
agora assim,
sociáveis às gentes,
são sonhos reformados de tudo,
pensionistas da recruta de sempre, normais, vaidosos, resignados,
esperançados até,
comerciáveis, escolhidos só para sonhos, cardápios,
permanentes antecansaços, desistências, desilusão nas prateleiras por ordem humana.
E entre este tanto, os sonhos iniciais, aqueles que topam os homens,
irmanam-nos,
assistem ao fecho das contas
e entregam-se, perguntando-se
ao poema
Teresa Bracinha Vieira