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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO

  


XCIX - RESPONSABILIDADES E RECIPROCIDADES LINGUÍSTICAS E INSTITUCIONAIS


Nas inúmeras visitas oficiais de Estado, do anterior e atual presidente do Brasil, sobressai o uso regular, ao que me apercebi permanente, do uso da língua portuguesa como idioma de comunicação global e internacional, no mesmo plano de igualdade e de reciprocidade, com os seus homólogos de outros países. Sucedeu nos Estados Unidos, na China, Rússia, Alemanha, França, Espanha, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Hungria, Argentina, Uruguai, Chile, Japão, entre outros, incluindo colóquios, palestras e entrevistas para a imprensa.   


Nem em inglês, francês, portunhol ou espanholês, apenas em português, em paralelo com o uso da língua materna dos seus interlocutores, com a respetiva tradução.


Também em recente visita do presidente gaulês a Angola, este expressou-se em francês, o seu equivalente angolano em português, usando este, de novo, o nosso idioma comum aquando da última viagem dos reis de Espanha, comunicando estes em castelhano. O mesmo em visitas congéneres com Moçambique.   


Entre nós, é frequente os nossos políticos, ao mais alto nível, em circunstâncias similares, falarem em inglês, francês, português, alemão (se o souberem), chegando a exprimir-se só em portunhol, ou em português e portunhol, em cimeiras, reuniões ou encontros bilaterais ibéricos, sem que haja reciprocidades dos nossos vizinhos, nem sequer quando connosco o atual rei espanhol, não obstante ter vivido vários anos em Portugal.   


Esta nossa não dignificação regular do nosso idioma, em termos bilaterais ou multilaterais, em conjugação com o contexto e a não obrigatoriedade do uso da língua global franca (hoje o inglês), não eleva a língua portuguesa num espaço de diversidade e igualdade recíproca, que merece por direito próprio, corroborado pela sua dimensão geolinguística, sendo uma das mais faladas pelo seu número global de falantes e dispersão intercontinental.       


Indicia-se, de igual modo, que são os “descendentes” linguísticos de Portugal que mais contribuem para a promoção internacional do português, como idioma, em termos de responsabilidade e reciprocidade linguística num patamar institucional, apesar das responsabilidades históricas lusas neste domínio, o que é um contrassenso. 


E os exemplos duma permissividade subserviente das elites tem reflexos na população em geral dos seus países, nomeadamente quando negativos e os seus esforços não têm correspondência recíproca e são inversamente proporcionais aos dos seus parceiros e destinatários, bilaterais ou outros. Mesmo políticos que falam fluentemente inglês, como o presidente francês e o chanceler alemão, são useiros e vezeiros na sua língua materna e oficial, que é menos falada que a nossa, para não referir o uso exclusivo do mandarim e russo pelos seus líderes, mesmo que não sejam fluentes noutra língua, o que não os embaraça, pois impulsionam os seus idiomas, o mesmo devendo ser feito para estimular e dar visibilidade condigna ao português, fale-se ou não outras línguas.   


Ou será que parte significativa das nossas elites caminha para o reforço de uma vocação essencialmente europeísta, abdicando aparentemente de uma promoção mais adequada do nosso idioma, mesmo que o proclamem internacionalmente como uma prioridade estratégica reforçada via CPLP?       


28.04.2023
Joaquim M. M. Patrício