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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POESIA

  


22.

Entre duas verdades

Opta-se por uma que se não conjuga com nada.

Saudosa,

a que se não escolheu,

ergue-se num instinto que não abdica

de viver


23.

Os deuses gostam de se excluir entre eles,

mas todos lutam pela regência de serem tudo em nós,

e sem limites,

assumindo diversas eternidades


24.

Afinal encanto-me com o que não consegui ver.

As folhas caídas sem alcançar o chão,

o tamanho do sol,

a altura do desconhecimento,

o ar que respiro,

o íntimo,

a luz do carcere,

a febre.

Sim, sou viajante, desconheço como aqui cheguei


25.

Acordo sempre a meio da ponte, sabendo

que fui até ali.

Faltam-me as forças para manter os olhos vestidos

com as batas brancas nas quais creio proteção, mas desconheço,

na sua completude, a razão desta doença.

Afinal a ponte não me distrai

da distância para a cumprir.

Porém, tendo para mim,

como para um centro fundíssimo,

enquanto a irreparabilidade da fraqueza me impede a outra margem.

E desconheço-me ali, no meio da ponte.

E fico naquela espécie de desgosto que me causo e me institui

mendiga da existência,

e sou poeta na idade de um como tal,

no meio da ponte.

Sempre sem me desviar, sem me acobardar.

E pergunto-me:

como é possível a ousadia

de estar ali se me conformo,

se o pano cai sobre o que não aconteceu,

naqueles momentos que registam o meu recolher ao rio

ou o regresso à mesma casa


26.

Desde sempre

o que consola não sacia a pergunta


Teresa Bracinha Vieira