POESIA
22.
Entre duas verdades
Opta-se por uma que se não conjuga com nada.
Saudosa,
a que se não escolheu,
ergue-se num instinto que não abdica
de viver
23.
Os deuses gostam de se excluir entre eles,
mas todos lutam pela regência de serem tudo em nós,
e sem limites,
assumindo diversas eternidades
24.
Afinal encanto-me com o que não consegui ver.
As folhas caídas sem alcançar o chão,
o tamanho do sol,
a altura do desconhecimento,
o ar que respiro,
o íntimo,
a luz do carcere,
a febre.
Sim, sou viajante, desconheço como aqui cheguei
25.
Acordo sempre a meio da ponte, sabendo
que fui até ali.
Faltam-me as forças para manter os olhos vestidos
com as batas brancas nas quais creio proteção, mas desconheço,
na sua completude, a razão desta doença.
Afinal a ponte não me distrai
da distância para a cumprir.
Porém, tendo para mim,
como para um centro fundíssimo,
enquanto a irreparabilidade da fraqueza me impede a outra margem.
E desconheço-me ali, no meio da ponte.
E fico naquela espécie de desgosto que me causo e me institui
mendiga da existência,
e sou poeta na idade de um como tal,
no meio da ponte.
Sempre sem me desviar, sem me acobardar.
E pergunto-me:
como é possível a ousadia
de estar ali se me conformo,
se o pano cai sobre o que não aconteceu,
naqueles momentos que registam o meu recolher ao rio
ou o regresso à mesma casa
26.
Desde sempre
o que consola não sacia a pergunta
Teresa Bracinha Vieira