Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICAS PLURICULTURAIS

  


139. O LIVRO IDEAL


- O senhor anda sempre à procura do livro ideal. Mas não existe. 
Ramiro concordou.     
- Foi uma frase genial. Nunca a esqueci, até hoje.     
Anos e anos comprador e leitor compulsivo de livros, frequentava uma livraria, género biblioteca, bar e tertúlia, onde nos seus solilóquios mais íntimos desejava encontrar uma resposta à pergunta: “Qual o sentido da vida?”. Entenda-se: “o seu sentido último”.
De uma crença incondicional na literatura, ansiava por um livro que lhe desse a resposta, estabelecia prioridades e triagens nas suas consultas de escritos, leituras e compras, sentia-se a toda a hora insatisfeito, desarrumava livros já arrumados, deslocalizando-os e ordenando-os de novo, querendo arrumar o caos, o infinito, organizando-o e tornando-o finito.  
Gostava de filosofia, tinha consciência da insuperável insuficiência do conceito de Deus, acreditando existir um muro entre o mundo divino e o humano. Os livros eram um meio de o ajudar a encontrar a explicação última de tudo.   
Um dia, porém, ouviu de uma voz feminina, que o atendia e observava com regularidade, por entre uma miscelânea e enciclopédia de buscas, rebuscas e procuras insistentes, que não há um livro ideal.
- E é verdade. Nunca tinha pensado nisso!   
Disse, Ramiro, abanando a cabeça. 
Consciencializou, de vez, sermos imperfeitos e perfectíveis.


19.05.23
Joaquim M. M. Patrício