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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

Dos princípios é a disrupção que esclarece


 


Precisamos de compreender a forma de pensar e de viver dos nossos antepassados e questionar as convencionais versões da nossa história para que nos chegue a qualidade da sabedoria política.

Não restam dúvidas de que a ajuda mútua abriu caminho a que as sociedades se organizassem e o cuidar dos outros foi expondo as características das civilizações.

Os arqueólogos conseguiram levar-nos a remontar a períodos anteriores aos dos reinos, e períodos ainda por escrever, mas que já nos permitem entender que em todas as partes do mundo, pequenas comunidades terão formado grandes civilizações, fomentando até o desenvolvimento do conhecer matemático.

Do cultivo das tamareiras à invenção do pão, da descoberta de plantas com substâncias psicotrópicas até à extração de remédios, da roda dos oleiros, à vela, a concentração de poder em poucas mãos, parece ter sido sempre realidade.

Crê-se que este domínio era acompanhado pela marginalização das mulheres, quantas vezes, através da sua violenta subordinação, tornando-se desconcertante a arte minoica, na qual elas surgem com sinal de superioridade política segurando símbolos de comando.

Na arte minoica as representações masculinas mostram os homens a trazer os tributos e a adotarem posturas de subserviência perante as mulheres.

Nada disto parece ter paralelo nas sociedades patriarcais do Egipto ou da Síria, entre outras.

Todavia, os estudiosos seguem o arqueólogo britânico Arthur Evans, considerado o grande descobridor da cultura minoica no início do séc. XX, e que identifica muitas mulheres como deusas, mas mesmo estas, sem deterem poder terreno e não as inserindo sequer na estrutura social da política.

Discute-se hoje, se o que passou, muitas vezes, por civilização, não terá sido mais do que uma apropriação de género de verdadeiros sistemas de conhecimento anteriores, e nos quais, no centro, se encontravam as mulheres.

Afinal, bem se sabe que a referência da política à arte, é tida como contributo forte ao caminho para encontrar o poder-razão já bem expresso nas belas gravações, nomeadamente das olarias, e é contributo essencial ao explicar os contextos diferentes da formação do Estado, e os modos, através dos quais, o poder expande os seus raios de ação.

Na verdade, um dos pontos mais imediatos entre política e arte é o facto de ambas ocorrerem em campos de visibilidade comum, representando desafios ao pensamento social.

Um círculo completo, afinal o dos poderes, e quantos, os mais fortes, sem narrativas de progresso, sem a fertilidade de espírito que conduza em prol de algo.

O inevitável demora sempre algum tempo, mas enfim, dos princípios, é a disrupção que esclarece.


Teresa Bracinha Vieira