CRÓNICA DA CULTURA
Os especialistas dos ofícios a tempo inteiro
A história tem enfatizado que comerciantes, políticos, generais, advogados, sacerdotes, médicos, entre outros donos de saberes específicos, se agruparam para proteger a sua “propriedade” num diagnóstico de verdade demasiado genérica, assimilada completamente no poder da ascensão do Estado.
Estas elites são criaturas de classes dominantes que não descuraram - na organização das sociedades - o extrair para si mesmas, boas fatias à manipulação de poderes.
Crê-se que os “administradores” de todos os ofícios a tempo inteiro, imaginaram que tudo era possível gerir não partilhando excedentes, até a nível da cultura, excedentes, cuja distribuição abanasse alicerces que colocassem em causa a justificação do seu poder.
Assim, físicos, teólogos, matemáticos, entre outros que desempenhassem as especialidades de ofício a tempo inteiro, tornaram-se também talentosos caçadores das artes, aceitando estas cumprir o suficiente, nas relações de dependência, para que no retorno lhes coubesse um espaço de visibilidade reconhecido.
Ora, tudo isto contrasta muito com o desejo que se invoca de um projeto de mundo diferente do atual e que possa dar frutos num futuro condigno aos seres.
Parece que ainda se não descortinou um investimento que ultrapassasse o lucro para muitos indivíduos que o obtêm do exercício do poder uns sobre os outros.
Parece que ainda as correntes de um cativeiro algo dissimulado e até aparentemente polido, se continuam a organizar esperançosas de que a realidade se mantenha esta, e que seja tudo menos diferente.
Sugere-se, em última análise, que sempre foi assim e assim será, e que o modelo da “gratificação” cria sempre algo igual, e que, a ele, quase todos estamos presos, na sedução e na aceitação do conteúdo do mesmo.
Enfim, este, um patamar elevado sem a mácula do fracasso, que os especialistas dos ofícios a tempo inteiro ainda sugerem que nos inscrevamos como alternativa convincente.
Teresa Bracinha Vieira