CRÓNICA DA CULTURA
Martin Amis: um gigante na pele funda dos livros do mundo
Foi em maio que MA nos deixou.
O nosso profundo lamento mantém-se corpóreo, difícil mesmo de atravessar.
Martin Amis, um estilista da língua, um talento como escritor de uma astúcia diferente, de uma ironia mordaz na captação dos excessos da cultura moderna.
Possuía MA uma inigualável e impiedosa lente na interpretação das nossas vidas. Nada lhe era fosco à porta do perceber. Desafiou convenções, foi incisivo no ataque às hipocrisias. A sua escrita elegante bebeu uma água férrea que esclareceu o poder da sua visão e deixou-nos, sim, a possibilidade que uma força fértil nos revisitasse se assim consentíssemos.
Escritor, cronista, sempre controverso, de Grana a Zona de interesse, de A Seta do Tempo a Sucesso, nada lhe é invisível no seu pensar manufaturado de acutilância e registo aceso, nomeadamente face à descarada indiferença humana.
Saul Bellow, um dos escritores que mais o inspiraram, Nobel da Literatura em 1976, que percorreu o poder, a riqueza, o egoísmo, a massificação social e a falência cultural a fim de que se lutasse por um humanismo sem mentira, inspirou MA, a escavar e a expor um subsolo que sobrevivesse à total perda da terra-ser, e com humor satírico quanto baste, diríamos: pois que se reguem agora os seres com um novo adubo que impeça o seu crescimento para baixo.
Martin Amis, hoje rejubilo por poder falar de ti. O teu dom literário, ou uma nova seriedade nesta tua escrita que nos deixaste, entrando no nosso espaço, pessoa a pessoa.
Bem Hajas
Teresa Bracinha Vieira