POESIA
ODISSEIA (3)
XI
Em bodas nunca vistas,
antes mesmo da luz no cálice
ser outro tanto ou mais
que uma pomba,
guardou-se o luto
pelo anjo que não morreu
de mal de amores.
XII
Se o meu olhar for capaz de se despojar de si,
terei a prova:
o esquecimento
não existe.
XIII
Ainda não preenchi a minha proposta
ao infinito, e se a fizer,
as coisas passam na mesma,
passam,
e eu,
sem entrar nem sair delas,
sem questionar o zero,
sem sequer me aposentar das precauções,
pergunto onde está o mundo que era como este,
onde estão as palavras que saltaram do papel?
XIV
Esprema-se este mundo até que uma gota
caia num outro.
A barca, jovem senhora,
vendida por seu pai, trocada por sua mãe,
desamada por olhos abertos,
largou a águas fundas,
interrogando o único sapato de terra
que lhe permitiria andar descalça.
XV
Há uma robustez
que se expulsa da descrença e se alonga até
ao pátio dos mosaicos que faz
a leitura do deserto
e resiste.
Teresa Bracinha Vieira