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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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POESIA

ODISSEIA (3) 

XI


Em bodas nunca vistas,

antes mesmo da luz no cálice

ser outro tanto ou mais

que uma pomba,

guardou-se o luto

pelo anjo que não morreu

de mal de amores.


XII 

  


Se o meu olhar for capaz de se despojar de si,

terei a prova:

o esquecimento

não existe.


XIII

  


Ainda não preenchi a minha proposta

ao infinito, e se a fizer,

as coisas passam na mesma,

passam,

e eu,

sem entrar nem sair delas,

sem questionar o zero,

sem sequer me aposentar das precauções,

pergunto onde está o mundo que era como este,

onde estão as palavras que saltaram do papel?


XIV 

  


Esprema-se este mundo até que uma gota

caia num outro.

A barca, jovem senhora,

vendida por seu pai, trocada por sua mãe,

desamada por olhos abertos,

largou a águas fundas,

interrogando o único sapato de terra

que lhe permitiria andar descalça.


XV 

  

Há uma robustez

que se expulsa da descrença e se alonga até

ao pátio dos mosaicos que faz

a leitura do deserto

e resiste.


Teresa Bracinha Vieira