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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

POEMS FROM THE PORTUGUESE

POEMA DE JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA

  


Escatologia


E, por fim, Deus regressa
carregado de intimidade e de imprevisto
já olhado de cima pelos séculos
humilde medida de um oral silêncio
que pensámos destinado a perder
Eis que Deus sobe a escada íngreme
mil vezes por nós repetida
e se detém à espera sem nenhuma impaciência
com a brandura de um cordeiro doente
Qual de nós dois é a sombra do outro?
Mesmo se piedade alguma conservar os mapas
desceremos quase a seguir
desmedidos e vazios
como o tronco de uma árvore


in Estação Central, 2012


Eschatology


And, at last, God returns
full of intimacy and unexpectedness
contemplated already from centuries above
humble measure of a verbal silence
we thought destined to be lost
See God climbing the steep path
that we have paced a thousand times
and stop to wait without impatience
meek as a sick lamb
Which one of us is the other’s shadow?
Even if no pity preserves the maps
we’ll come down close behind
rampant and empty
like a tree trunk


© Translated by Ana Hudson, 2012
in Poems from the Portuguese