POEMS FROM THE PORTUGUESE
POEMA DE JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Escatologia
E, por fim, Deus regressa
carregado de intimidade e de imprevisto
já olhado de cima pelos séculos
humilde medida de um oral silêncio
que pensámos destinado a perder
Eis que Deus sobe a escada íngreme
mil vezes por nós repetida
e se detém à espera sem nenhuma impaciência
com a brandura de um cordeiro doente
Qual de nós dois é a sombra do outro?
Mesmo se piedade alguma conservar os mapas
desceremos quase a seguir
desmedidos e vazios
como o tronco de uma árvore
in Estação Central, 2012
Eschatology
And, at last, God returns
full of intimacy and unexpectedness
contemplated already from centuries above
humble measure of a verbal silence
we thought destined to be lost
See God climbing the steep path
that we have paced a thousand times
and stop to wait without impatience
meek as a sick lamb
Which one of us is the other’s shadow?
Even if no pity preserves the maps
we’ll come down close behind
rampant and empty
like a tree trunk
© Translated by Ana Hudson, 2012
in Poems from the Portuguese