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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO

  


CXV - POR UMA QUESTÃO DE RESPEITO E BOM SENSO


Escrevi, em texto publicado neste blogue:

“A velocíssima rapidez com que jogadores e técnicos portugueses se adaptam ou tentam adaptar a um bom uso da língua oficial de Espanha quando aí trabalham ou residem, é inversamente proporcional aos esforços que desportistas e técnicos espanhóis fazem para se adaptar a um bom domínio do português em terras lusas”.

Continuando, acrescentei:        

“Refira-se que a ser verdade de que quem fala português tem mais facilidade de falar  (e compreender) castelhano, seria de prever, por tal vantagem, que houvesse proporcionalmente mais espanhóis a interessar-se pelo nosso idioma”, o que manifestamente não acontece (A Língua Portuguesa no Mundo, XLIX - Não ao Complexo de Inferioridade Linguístico (II)).

Exemplifico-o referindo um treinador espanhol do Benfica (Camacho), “useiro e vezeiro no uso do castelhano no nosso país, apesar de residente em Portugal por razões profissionais, nunca se lhe tendo ouvido, via comunicação social, um bom dia, boa tarde, boa noite ou obrigado”, o que era extensivo ao seu compatriota Quique Flores, sem reclamação ou protesto, o que não sucederia se portugueses, por razões similares, residissem e laborassem no país vizinho, como sucedeu com Carlos Queiroz, José Mourinho, Cristiano Ronaldo, Futre ou Figo, o mesmo sucedendo agora, por exemplo, com João Félix e João Cancelo.   

Aludo a um complexo de inferioridade linguístico luso, mesmo no nosso próprio país, quer através de um uso confidencial do nosso idioma ou sua baixa consideração social, quer por se entender serem os espanhóis maus em línguas, porque não se esforçam ou presumem não valer a pena, dada a nossa permissividade, sendo esta comum a uma percentagem significativa das nossas elites e jornalistas. 

Por mim, em Portugal (como residente) ou Espanha (como turista ou viajante), tento fazer-me entender em português, usando-o e repetindo pausadamente as palavras, justificando-se, usando o inglês em caso de conflito e de não reciprocidade, se exequível. E são cada vez mais os espanhóis que entendem o meu português, dado que determinados maus hábitos de permissividade plena não se justificam. O que é bem diferente de morar e trabalhar no dia a dia noutro país, que não o nosso (mesmo que temporariamente).     

Felizmente, há quem pense ser do mais elementar bom senso e uma questão de respeito aprender o nosso idioma quando residentes e trabalhadores entre nós aprendendo, no mínimo, o português básico e fundamental para uma integração saudável. Demonstra-o o atual treinador da seleção nacional Roberto Martinez, um espanhol da Catalunha, com aulas presenciais ou on line, nunca menos de duas horas diárias, para comunicar com os jogadores e entender a nossa cultura, tradições e história, tendo feito em português a primeira convocatória como selecionador de Portugal, usando-o quando interpelado no nosso país, onde reside e trabalha. Uma conduta adequada que deveria ser a norma, e que, até agora, é mais a exceção que a regra, o que se lastima.


15.12.23
Joaquim M. M. Patrício