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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICA DA CULTURA

O FUTURO DE TUDO (2) 

  


As plantas não crescem nem são belas porque a IA lhes dá o poder da Natureza.

Não, a IA não é mundo natural nem vida, como é tudo o que envolve o mundo dos seres vivos.

A natureza de algo é a sua verdade, a sua essência, a sua disposição inata.

A partir de múltiplos algoritmos não se atinge o que permanece tal como surgiu sem sequer ter tido a ajuda dos seres humanos.

Parte-se de uma ideia profunda de mundo anterior à própria existência de ordem humana.

Partilhar laços e o seu balanceio com o sensível, ter consciência da sua própria existência evolutivamente, da sua própria finitude, é algo que só existe nos humanos.

Lembremo-nos também que planta, fungo, bactéria, animal, estão sujeitos à lei da biologia e da sobrevivência e pedem sombra, sol, sossego e sono.

A célula é a menor unidade de vida e mesmo sozinha forma um ser vivo, um organismo unicelular e em grupo formam organismos pluricelulares como animais e plantas.

Ora, aquilo que é entendido por Aprendizado de Máquina (uma das capacidades da IA que possibilita aos softwares usarem inputs humanos para “aprender”), fundamenta-se no que estimula o funcionamento do cérebro humano, mas aplicando ferramentas computacionais, o que quererá dizer que a IA evolui a partir de algoritmos que “aprendem” as preferências dos usuários, e se combinam para fazerem sugestões mais precisas ao solicitado.

Mas estamos perante formas mecânicas que se não comparam nunca às formas de expressão humana qual pasmosa distância de um querer de um Deus, como o oásis.

Na verdade, sem a presença física de um ser humano, o sistema de um carro pode memorizar - através de ordens nele incorporadas - direções e trajetos o que não determina a exclusão de humanos do melhorar desta função, e sobretudo a IA teria de ser bem mais complexa e precisa do que a praticada pelos humanos para que estes nela possam confiar.

Boris Eldagsen em 2023 ganhou um prémio de um concurso internacional de fotografia gerada por IA.

Eldagsen abdicou do prémio divulgando que a foto tinha sido gerada por um algoritmo, admitindo que essa forma não é comparável à do uso das máquinas fotográficas que não constituem trabalhos derivativos de obras anteriores, e que este método não gera arte, não obstante ser possível nesta fotografia adivinhar-se um vínculo entre estas mulheres, ou a melhor prova de que processos repetitivos geram aparências.

De lembrar que quando surgiu a fotografia ela não liquidou a pintura, e se se entender que o melhor uso da IA origina muito mais do que modificações de incrementos de múltiplas obras, tal não finda com outras formas de arte, mesmo que a da IA venha a ser a ser considerada uma forma de arte.

Certamente a inteligência artificial se irá tornar cada vez mais valiosa para o mundo e melhorará muitas eficiências e irá dar muitos passos muito além, e até já originou um DNA sintético de pessoas inexistentes, o que até leva a que esta ferramenta de pesquisa de geneticistas, possa fazer experimentação sem se comprometer a ética científica ou a vida de pessoas reais.

Todavia, a inteligência humana é um processo multifacetado e ainda muitíssimo desconhecido, que envolve mudanças biológicas, sociais, culturais e cognitivas.

A inteligência humana continua a desenvolver-se à medida que enfrentamos desafios e oportunidades como espécie.

De recordar que Humberto Maturana e Pille Bunnell afirmaram que o único sentimento que amplia a visão e expande a inteligência é o amor.

E a IA não ama.

 

Teresa Bracinha Vieira