CRÓNICAS PLURICULTURAIS
169. O LADO EFÉMERO E PERMANENTE DO VANGUARDISMO
O fundamento teórico do vanguardismo rompe com toda e qualquer tradição ou norma estabelecida, tidas como impeditivas do progresso e da evolução, dando lugar à inovação.
A geração mais nova tem como missão romper com o passado e, sobre a sua herança e escombros, acelerar a criatividade, criar um mundo novo, inventar o futuro ultrapassando o que findou, excedendo o presente e criando o que está para vir.
A arte, a evolução científica e tecnológica, o progresso civilizacional, as inovações revolucionárias e militares, a proliferação e a diversidade de renovações formais, a criação de novas linguagens e a construção de um novo universo plástico, passam a ser tidos como uma investigação gradual, sucessiva e permanente, uma guarda-avançada dos novos saberes e sensibilidades.
Pela própria natureza de experimentação permanente, as vanguardas estão, também, condenadas à efemeridade, ao que é breve, conjuntural, transitório e temporário, dado que, permanentemente, outras alternativas acabam por superar as anteriores.
São princípios comuns que, pela sua própria essência de experimentação constante, se aplicam, amiúde, ao cinema, à escultura, à literatura, à música, à pintura, à poesia, ciência, tecnologia, medicina, ideais, à escala e patamar das civilizações, numa frente comum futurista e messiânica, contra a tradição e a academia.
Todavia, tanto a vertente antitradicionalista como a futurista se complementam, potenciando as vanguardas e o movimento vanguardista que lhes está associado, não obstante o seu elitismo inicial e o seu potencial divórcio, pela sua ininteligibilidade, com o público que, com o tempo, as assimila, surgindo a necessidade de novos caminhos, abandonando o passado e acelerando e inventando o futuro.
Por exemplo, o aparecimento da fotografia de copiar fielmente a natureza, através de um processo rápido e realista, não acabou com a pintura tradicional, que preserva a sua linguagem própria. Assim como as imagens sintéticas e fotorrealistas produzidas pela inteligência artificial, tidas como uma representação de uma fotografia, não acabaram com a fotografia propriamente dita.
Se se tem como adquirido e inevitável que a intenção predominante nas vanguardas deve ser, não a da tradição, mas a da inovação, é caso para se assumir que além do que já foi feito, falta fazer tudo.
05.04.24
Joaquim M. M. Patrício