CRÓNICA DA CULTURA
POR OCASIÃO
Conheço uma árvore podada que ficou muito menos frondosa, mas ganhou em viço.
O escritor olhava-a e sempre que o texto lhe parecia acabado, alterava-o, revisitava outros países num tempo rápido e voltava a olhar para a árvore.
Como explicar? A árvore despertava-lhe um poder de fruição de expectativas, de desempenhos, de diferentes eixos de narrativas e uma profunda curiosidade de lhe entender o viço, de lhe seguir o fio que a levava ao desvendamento da sua razão.
O escritor pensava mesmo se não haveria textos que nunca se concluiriam por não encontrarem o itinerário do viço depois de podados.
E insistia. E naufragava. E olhava de novo para a árvore.
Havia entre eles um romance inacabado, algo indecifrado, algo inesperado que solicitava o escritor como num campo magnético e o mobilizava naquela química literária do interpretar poda e viço.
Não se imagina a libertação do escritor quando num espaço-tempo no frequentar da árvore, conseguiu enfim reconstruir uma epistemologia, e não encontrando outro ser vivo da sua espécie, soube que a árvore o entendera.
Intentou então o escritor ir além dele, exercendo a literatura no aceitar o preço da poda e da condição aleatória que lhe coube.
Árvore e escritor, uma hipótese, uma aventura, um preceder da entrada em cena da escrita, um processo de caução aos vários avatares.
Teresa Bracinha Vieira