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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICAS PLURICULTURAIS


171. LER É VIVER VÁRIAS VIDAS EM LIBERDADE


Extrapolando o excerto bíblico, é verdade que no princípio era o verbo, ou seja, a palavra falada, já que a palavra oral se antecipou temporalmente, em milhares de anos, no mínimo, à escrita.


E se é possível imaginar um mundo sem escrita, sem esta pouco ou nada saberíamos das civilizações que a criaram, nem poderíamos, sem leitura, contactar e dialogar com outras gerações que nos antecederam ao longo de milénios de história.   


Quem não lê, um país que não lê será sempre fraco, a falar e escrever pior, a ser mais prontamente manipulado, menos eficiente em algo de essencial e no exercício do contraditório, não estimulando a memória e a aquisição de conhecimento, perdendo-se a capacidade de questionar e de ser livre, ficando mais despossuídos de mandarmos em nós próprios e mais permissivos para sermos mandados.   


Ler é ter porta aberta a todos os mundos, alegres, tristes, pacíficos, sombrios, sinistros, fantásticos, futuristas, imaginários, um sonho que nos liberta pela mão de outrem e pela nossa imaginação. 


É um escape, uma fuga, voar mais alto, ir mais além do atingível, tocável e inteligível.   


Ao chavão “só fala e escreve bem quem lê muito”, opina-se que “falar e escrever bem estão em extinção, dada a redução do vocabulário, porque não se lê ou lê pouco”, com a cultura da leitura à beira do abismo, endeusando-se a quimera da igualdade e do saber das redes sociais, mesmo tendo-se como adquirido não ser o mesmo ler num ecrã de telemóvel/computador ou num livro, como sucede com os livros clássicos e sapienciais, pois escreve-se e lê-se pior através dos pequenos e grandes ecrãs.


Se é verdade que a leitura de livros vai perdendo a competição para os tablets (na maioria das casas, mesmo endinheiradas, os livros não existem ou são coisas raras), também a sua aprendizagem e uso privilegia e singulariza cada vez mais, pela positiva, quem o faz, não desprezando o lado analógico da nossa condição humana. 


E se para acionarmos a fala inventámos a escrita, se para acionar a escrita criámos a leitura, para a leitura exercitamos a imaginação de vivermos múltiplas vidas em liberdade, pois “Ler é transformarmo-nos, de um em muitos, de singular a plural” (Eugénio Lisboa, em Indícios de Oiro).


19.04.24
Joaquim M. M. Patrício