CRÓNICA DA CULTURA
O que está no horizonte das possibilidades
Os saberes têm provado que a humanidade só muda na aparência.
A fila dos absurdos na falta de espessura dos humanos perdura até que um e um outro Leviathan
vençam.
O tempo abstrato regista as medulas inclinadas até ao chão.
Até os heróis perdem a decifração do que se passa e perdem-se a eles mesmos num lodo que lhes apaga os vestígios das pegadas do existir.
Os deuses, os deuses
desencadearam há muito um projeto totalitário: o monoteísmo e outros que se lhe entrelaçam e reinam.
Púdicos, confusos, os homens precisam de mimos e encostam-se uns aos outros dentro do mesmo ouriço, numa caminhada sem ato de vontade, prisioneiros-alvo, no cais que agora só os reproduz iguais.
Também se chora a ler versos sem os entender, desconhecendo se se imagina a pungência, ou se apenas umas coisas vão tirando as outras e todos se consolam como nobres figuras.
A plasticidade foi excessiva nalgum ponto de luta e a casa de cada um deixou de ter forma, telhado ou halo.
Mas eis que rebenta uma flor, uma flor que conhece o que está no horizonte das possibilidades, uma flor com aroma e com um pio que orienta cegos; uma flor tão sensata que conhece os limites da liberdade; uma flor que concluiu que a finitude estimula a formação de projetos, mesmo que o horizonte seja chão, solidão essencial ou sobressalto.
E eis que os saberes confluentes assomam assim na natureza nua.
E eis que a flor expõe de novo o vínculo grandioso que nunca se apossou da totalidade dos possíveis.
Teresa Bracinha Vieira