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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

  


Meu filhinho:

E muito te desejo saúde. E tantas saudades tenho de ti. Aqui te botei no mundo com tanta alegria e te criei e o teu fadário foi ires buscar vida numa terra tão longe da tua mais rendosa para que outro galo te cante mas filhinho ainda hoje na festa da vindima ouve animação e fogo numa estrondearia que só visto e procissão e eu mãe no choro sem ti e tu filhinho dizes que virás mas que por ora não dá e lá me envias um dinheiro para os remédios mas estou ruim da alma por tantas saudades tuas e é sempre a mesma conversa o médico lá me diz que para a alma não tem como me ajudar. Bem-no escuto e lá me meto a caminho da horta com o teu cheiro na memória filhinho e quero dar a teu pai uma ideia prazenteira de teu futuro e só me ocorre tu pequenino a acreditar que o seio da tua mãe era tudo e não era afinal. Mas acredita no bom agoiro e na tal certeza que basta para mais uns anos e virás por tua causa e por causa de teus pais e desta terra que se visses como está sem ti meu filhinho valha-nos Deus. Com o rodar dos anos filhinho amado o que recordo quando te vi rebento de truz consola-me a esperança mas é martírio o que trago no peito por não te ter dado um futuro aliviado da tua partida. Filhinho recebi a tua carta a pedir notícias nossas e digo-te que teu pai não há quem no ature de noite a dormir aos migalhos que a abafação da tosse mais não permite e eu bem me custa afligir-te mas a moléstia grande é tu estares aí sozinho e não falares a fala das gentes para quem trabalhas e assim nem pão saberás pedir ainda que aqui pão com a bênção de tua mãe e de teu pai sempre aqui terás ainda que o andamento da vida seja o mesmo que conheceste e muito fizeste tu em achares coragem e partires para uma fome mais saciada e não me resigno filhinho até a maria celeste e a da purificação me acham assim mirradita mas diz quando achas que vens para eu ir destinando matança e nada faltará pois que estás sempre em meus cuidados e olha recebe a minha bênção tua mãe e a de teu pai e tantas saudades te envio que por elas a força de te aguardar aqui a tenho no peito toda junta e vai ser um outro parto quando te voltar a ver.

 


Teresa Bracinha Vieira