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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

«Nada virá do nada». 

  

 

O ato de narrar é uma necessidade humana.

Unir vida através de todos os tipos de linguagem é compreender a razão de nós a nós próprios, e de nós, na proposta ao mundo.

É também o cumprimentarmo-nos de igual para igual na imensa diferença.

Todavia, vivem-se tempos em que se questiona pouco, o grau elevado do imperfeitamente livre que a liberdade tem estado a atingir, e que já condicionou, em muitos locais, o ato de narrar pretendendo-o como ato de respiração censurada.

Os próprios escritores, os músicos, os estudiosos, os pintores, os arquitetos, os físicos, entre todas as vozes indispensáveis à lúcida vida, quando hoje se opõem ao fanatismo ou à ortodoxia, são acusados de perturbarem as pessoas cujo desejo é o de serem absolutamente comandadas, tal o seu grau de indigência que não sabe discernir sequer a indignidade que tal comportamento engloba.

Contudo, a realidade da não-vida que se espraia pelo mundo, já vinha dando sinais de sucesso, de há muito.

Não será que se descurou o quanto a bestialidade traz consigo a chegada das armadilhas dos juízos, exímios na cartilha de embolar verdades e mentiras, destinadas à boa digestão de fatias da opinião pública, incapazes, enfim, de viver numa sociedade diferente da que as ordena no fio de uma paz de navalha.

As mentiras deliberadas têm sido mascaradas de que os que as podem desmascarar são os próprios mentirosos, e assim estes continuam a fazer o seu trabalho.

Diríamos que nunca deveria ter tido lugar a desatenção ou a complacência ao ar impuro, mas respirável, ou porque a arte original - a que revoluciona -, nunca é criada em meio seguro e por essa razão, também tanto se tolera.

Acode-nos pensar que a narrativa é do que queremos falar e não do que nos impede de o fazer.

Somos e seremos sempre responsáveis, se um cartão de racionamento passar a ser visto como um tesouro.

Que nos acuda, no mínimo, a lembrança do que o Rei Lear disse a Cordelia,

«Nada virá do nada».


Teresa Bracinha Vieira