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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

  


Temos a sensação de que as coisas se fecham e de que os muros se levantam ao diálogo para o asfixiar quando o deveríamos estar a amplificar.

Estamos numa época de grande teste à liberdade, e pensa-se mesmo em lançar retaliações contra o pensamento, contra o questionamento do eu, bem como contra as interrogações aos princípios das religiões.

Argumenta-se e tenta-se convencer que as sociedades para serem éticas, carecem de quem estabeleça, supremamente, o que é certo e o que é errado, e logo nos atenta o romano poeta Juvenal: Quis custodiet ipsos custodies. «E quem nos guardará dos guardiães?»

A censura é a energia negativa. É o não-ser que reivindica uma autoridade que se deseja indiscutível.

Recordo – entre tantas outras realidades - o Festival Literário de Jaipur e as agressões a Ashis Nandy quando abordava a corrupção nas castas inferiores.

Na verdade, até o famoso romance de Rohinton Mistry, Such a Long Journey, foi retirado de estudos da universidade de Bombaim já que os radicais se opuseram ao seu conteúdo.

O escritor Ye Du desapareceu em 2011 depois de denunciar o “crédito social” como uma nova forma de controlo totalitário da sociedade.

A um Augusto César, logo lhe ocorreu desterrar Ovídio.

Recordo igualmente o quanto li acerca das vidas que se desmembraram e desmembram ao cair pelos buracos do sonho americano ou nos das superioridades morais das causas esquerdistas.

Se a nossa civilização for a que melhor convive com a compreensão, nunca como agora, um diálogo global se mostra tão importante e indispensável.

Mas há que nos lembrarmos com muita resistência o quanto a capacidade de discernir deixa a tirania desconfortável.

Se conseguirmos inspirar que as várias formas de comunicação se constituirão ainda a tempo de o mundo ser capaz de se ouvir, então retomaremos todas as conversas interrompidas.

Crescer é um fenómeno de liberdade que assenta em nós próprios.

De Lao Tzu, poeta e filosofo chinês, é a frase «uma viagem de mil milhas começa com um único passo».

E afinal sem cenoura e sem paus a escolha é nossa.


Teresa Bracinha Vieira