CRÓNICA DA CULTURA
Temos a sensação de que as coisas se fecham e de que os muros se levantam ao diálogo para o asfixiar quando o deveríamos estar a amplificar.
Estamos numa época de grande teste à liberdade, e pensa-se mesmo em lançar retaliações contra o pensamento, contra o questionamento do eu, bem como contra as interrogações aos princípios das religiões.
Argumenta-se e tenta-se convencer que as sociedades para serem éticas, carecem de quem estabeleça, supremamente, o que é certo e o que é errado, e logo nos atenta o romano poeta Juvenal: Quis custodiet ipsos custodies. «E quem nos guardará dos guardiães?»
A censura é a energia negativa. É o não-ser que reivindica uma autoridade que se deseja indiscutível.
Recordo – entre tantas outras realidades - o Festival Literário de Jaipur e as agressões a Ashis Nandy quando abordava a corrupção nas castas inferiores.
Na verdade, até o famoso romance de Rohinton Mistry, Such a Long Journey, foi retirado de estudos da universidade de Bombaim já que os radicais se opuseram ao seu conteúdo.
O escritor Ye Du desapareceu em 2011 depois de denunciar o “crédito social” como uma nova forma de controlo totalitário da sociedade.
A um Augusto César, logo lhe ocorreu desterrar Ovídio.
Recordo igualmente o quanto li acerca das vidas que se desmembraram e desmembram ao cair pelos buracos do sonho americano ou nos das superioridades morais das causas esquerdistas.
Se a nossa civilização for a que melhor convive com a compreensão, nunca como agora, um diálogo global se mostra tão importante e indispensável.
Mas há que nos lembrarmos com muita resistência o quanto a capacidade de discernir deixa a tirania desconfortável.
Se conseguirmos inspirar que as várias formas de comunicação se constituirão ainda a tempo de o mundo ser capaz de se ouvir, então retomaremos todas as conversas interrompidas.
Crescer é um fenómeno de liberdade que assenta em nós próprios.
De Lao Tzu, poeta e filosofo chinês, é a frase «uma viagem de mil milhas começa com um único passo».
E afinal sem cenoura e sem paus a escolha é nossa.
Teresa Bracinha Vieira