CRÓNICA DA CULTURA
A sombra suplanta em tamanho o seu dono, mas não confunde quando se decide executar o homem.
Se as sociedades tivessem esta consciência, sinal seria de que se avançara através do questionamento, o que impossibilitaria a miniaturização dos seres e o seu consequente abate.
É certo que a argumentação, mesmo a interrogativa, pode tomar direções retrógradas, mas entendemos que o indagar, é o que nos permite não nos deixarmos encerrar por pensamentos dominantes.
Bem se tem conhecimento real de que a bestialidade promulga leis como resposta às ideias de quem se não submete; e, utiliza leis, a fim de usar a mascarada teatral que indica quem está certo ou errado, o que não carece de esforço de entendimento por parte de quem nem sabe que desistir da liberdade é extinguir-se a si mesmo.
Mas «liberdade» é algo conquistado ou também algo em dúvida? Que palavra de poder, «liberdade»!
E afinal saberemos nós procurar a composição dos âmagos que abarca? Teremos apurado esse instinto nuclear?
Les Hirrondelles de Kaboul, esclarecem-nos, como a seu tempo expressámos.
Ansiamos a liberdade e queremo-la de volta se a mesma nos tiver sido retirada, mas há sempre trabalho a fazer.
O desejo e a vontade de liberdade são indivisíveis como bem nos transmitiu Nelson Mandela «as correntes em todo o meu povo eram as correntes em mim».
O grande alerta é o de que o oposto deste pensar-sentir está a ressurgir e com ele a anatematização.
Regressa o uso da religiosidade do líder quando tudo o que é mau é o que está fora do seu domínio, e incute-se o medo desmensurado a fim de que a sociedade soçobre ao comando, ou se entregue por se crer definitivamente vítima.
Resultou do Príncipe de Maquiavel o quanto o medo é um instrumento de governação mais eficaz do que o amor.
Mas recordamo-nos também que George W. Bush declarou memoravelmente que «um líder é alguém que une as pessoas», por oposição a quem afirma que todos o seguem.
Há que desmascarar com urgência a variedade de aiatolas que nos rodeiam e que vão sobrevivendo e se vão reforçando, graças aos donativos das ignorâncias catastróficas que tão em coro, papagueiam clichés de uma estupidez charlatã.
Afinal, pensar por si, pensarmos pela nossa cabeça, não é um dado adquirido.
Mas se nos reclamam como membros de pertença e titulares de um bilhete de pensamento de grupo, eis-nos face à possibilidade do nosso eu valioso se expor.
Teresa Bracinha Vieira