POEMS FROM THE PORTUGUESE
Poema de Ana Hatherly
O Terceiro Corvo
Oh Lisboa
Como eu gostava de ser
O terceiro corvo do teu emblema
Estar implícita na tua bandeira
Negra e branca
Como tinta e papel
Como escrita e espaço!
Ser teu desenho
Tua nova lenda
Invenção deste século
Que já não inventa
E se interroga:
Donde vieram estes corvos?
Como tu, Vicente,
Eu também não sou de cá
Não sou daqui
Não pertenço a esta terra
E talvez nem sequer
Pertença a este mundo…
Porém estou aqui
Nesta dolorosa praia lusitana
Cheia de um tumulto inútil
Que enegrece as tuas areias
E polui o ventre do rio
Que os golfinhos há muito desertaram
E olhando as nuvens dedilhadas pelo vento
Sentindo a terna dor do teu sentir sentido
Peço-te, Lisboa
Surge de novo bela
Reinventa
A santidade perdida do teu emblema
in Itinerários, 2003
The Third Crow
Oh Lisbon
I would so like to be
The third crow in your shield
To be implicit in your flag
Black and white
Like ink and paper
Like script and space!
To be your drafted shape
Your new legend
Invention of this century
That no longer invents
And wonders:
Where have these crows come from?
Like you, Vincent,
I’m not from these parts
Not from this place
Not from this land
And perhaps I don’t even
Belong to this world…
Yet here I am
On this sorrowful Lusitanian beach
Full of a useless turmoil
That blackens your sands
And pollutes the river’s womb
Long abandoned by the dolphins
And seeing the clouds fingered by the wind
Feeling the gentle pain of your felt feelings
I beg you, Lisbon,
Rise again in beauty
Reinvent
The lost sanctity of your shield
© Translated by Ana Hudson, 2010