ANTOLOGIA
ATORES, ENCENADORES (XIV)
MARIA VITÓRIA, NOME DE TEATRO
por Duarte Ivo Cruz
No texto que dedicamos aos teatros do Parque Mayer referimos como sala “inaugural” desta concentração urbana de edifícios e atividades de cultura e lazer, o Teatro Maria Vitória. Foi efetivamente o primeiro a ser construído, na fase inicial de urbanização do recinto, datada, no que respeita ao teatro, de 1922. Mas ressalte-se agora que esse primeiro Maria Vitória era pouco mais do que um recinto provisório.
Diz-nos Jorge Trigo e Luciano Reis que «este Teatro tem o nome da grande fadista e atriz Maria Vitória, morta aos 24 anos» em 1915. E acrescentam os dois autores que “o teatro era no seu início uma simples construção de madeira e sarapilheira quando abriu as suas portas ao publico a 1 de julho de 1922 (…) O seu primeiro espetáculo foi a revista “Lua Nova”, em dois atos e onze quadros, da autoria de Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes, João Bastos e Henrique Roldão, os três primeiros formando a chamada Parceria, com música de Alves Coelho” (in “Parque Mayer” vol. 1- 2004 pag.37).
O Teatro Maria Vitória beneficiou de obras e deixou a curto prazo de ser o barracão inicial. Mas em 10 de maio de 1986 foi semi-destruído por um incêndio – e pode recordar-se que dois anos antes o Teatro Nacional de Dona Maria II sofreu o mesmo desastre… O teatro foi entretanto recuperado e reconstruído, tendo reaberto em 1 de março de 1990 com a revista intitulada “Vitória! Vitória!”, texto de Henrique Santana, Francisco Nicholson, Augusto Fraga e Nuno Nazareth Fernandes, música de João Vasconcelos, Fernando Correia Martins, Nuno Nazareth Fernandes e Fernando Ribeiro, encenação de Henrique Santana. Eram na altura empresários do teatro Helder Freire Costa e Vasco Morgado Junior.
O projeto de recuperação é da autoria do arquiteto Barros Gomes. E o teatro reflete, desde logo ao nível da fachada, com elementos arquitetónicos claramente diferenciadores. Um acréscimo discutível, dessa ou de outra época de reconstrução, prejudicou a fachada original.
Conservaram-se no interior algumas fotografias e placas evocativas, com destaque para Giuseppe Bastos e para o próprio Henrique Santana. Mas o teatro manteve, em boa hora, o nome o nome e a estrutura original da sala, em muito boas condições de restauro e funcionamento.
Vale a pena agora recordar quem foi Maria Vitória, inclusive pela insólita carreira que, em pouco anos, desenvolveu.
Desde logo, trata-se de uma fadista nascida em Espanha (1888) filha de pais espanhóis. Vem para Portugal quase recém-nascida. Surgirá integrada num dos elencos que, durante 10 anos, o que é extraordinário, manteve em cena a revista “O 31”, de Luis Galhardo, Pereira Coelho e Alberto Barbosa, com música de Tomás Del Negro e Alves Coelho, estreada em 1917. Luis Francisco Rebello cita críticas da época, que referem «a voz cavada e triste de Maria Vitória, ao entoar o célebre “Fado do 31 (…): “À porta da Brasileira/ dois bicos encontram dois./Ficam os quatro. E depois/lá começa a chinfrineira”»…
E em 1944, Estêvão Amarante lembrava os tempos «em que a princesa do fado não era a Amália Rodrigues. Era a Maria Vitória»! (cfr. Luis Francisco Rebello “História do Teatro de Revista em Portugal” - 1985)
Maria Vitória morre aos 27 anos (1915). Ficou o nome do teatro. E neste momento, é o único que funciona no Parque Mayer.
Duarte Ivo Cruz
Obs: Reposição de texto publicado em 11.03.15 neste blogue.