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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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ANTOLOGIA

  
Jacinto Ramos nos “Comediantes do Porto” 


ATORES, ENCENADORES (XVI)
JACINTO RAMOS E O TEATRO DO NOSSO TEMPO - TNT

por Duarte Ivo Cruz


Já aqui fiz referência ao teatro Villaret, iniciativa de Raul Solnado que o dirigiu desde o espetáculo inicial em 1964, até 1968. Solnado realizou, como diretor e como ator, uma ação relevante no ponto de vista de repertório e sobretudo no ponto de vista de espetáculos e de elencos, com o devido destaque as suas próprias encenações e interpretações. Mas ao mesmo tempo, abriu o teatro a iniciativas diversas da maior qualidade e repercussão: citei já, no artigo anterior, o célebre ZIPZIP feito para a RTP.

Mas a partir de 1965, faz agora exatos 50 anos, o Teatro Villaret como que se desdobra e acolhe uma iniciativa especificamente dramática, com risco calculado e muito bem sucedido – o que é notável – de simultaneidade de espetáculos. A chamada Companhia do Teatro do Nosso Tempo – TNT (não confundir com o TNP - Teatro Nacional Popular de Francisco Ribeiro, anos antes no Trindade) fazia espetáculos no Villaret, em sessões de fim de tarde ou alternando com os espetáculos da companhia de Raul Solnado. O sistema era arriscado mas funcionou… o que se deve à qualidade dos repertórios e dos elencos de ambas as companhias.

O TNT era dirigido por Jacinto Ramos (1917-2004), o qual desde 1945 marcava posição como ator em grupos profissionais e experimentais, com destaque para a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, onde ingressa em 1950, numa colaboração intermitente mas de dezenas de anos. Esteve entretanto ligado a outras colaborações, mas destacando sempre uma qualidade e exigência de repertório e de interpretação que duraria até final da carreira.

Em centenas de peças e de autores, cite-se designadamente entre os dramaturgos portugueses, desde Gil Vicente a Garrett, Eça de Queiroz (adaptação de Os Mais por Bruno Carreiro no Teatro Nacional) mas também, designadamente, Raul Brandão, António Patrício, Alfredo Cortez, Júlio Dantas, Romeu Correia, Alves Redol, Luis Sttau Monteiro, Bernardo Santareno, José Cardoso Pires...

Acrescente-se a participação na televisão e em cerca de 10 filmes, com destaque para o Chaimite de Jorge Brum do Canto.

Ora bem: como vimos, em 1965, Jacinto Ramos cria e dirige, no Teatro Villaret, a companhia do Teatro do Nosso Tempo, com um elenco de grande qualidade e um repertório de atualidade.

E nesse aspeto, salienta-se o repertório contemporâneo, desde logo com peças iniciais da atividade da companhia: por exemplo O Segredo de Michael Redgrave a partir de um conto de Henry James, ou especialmente a Antígona de Annouilh, este um belíssimo espetáculo pela qualidade do texto e pela interpretação, com destaque para Maria Barroso na protagonista, no que viria a ser, cremos, o seu último grande papel como atriz.

Recordo o comentário que na altura escrevi acerca do espetáculo de estreia da companhia, com O Segredo: “é uma peça bem construída de desenvolvimento certo e que enquadra com a maior segurança o conteúdo denso, cheio de implicações. O ritmo lento marca com clareza a intemporalidade ambiental, a repetição genérica de movimentos, de vidas e de psicologias.” E a análise crítica prosseguia com referências específicas ao encenador Paulo Renato, que poderemos um dia evocar nesta série de artigos.


Duarte Ivo Cruz


Obs: Reposição de texto publicado em 25.03.15 neste blogue.