POEMS FROM THE PORTUGUESE
POEMA DE DAVID TELES PEREIRA
Pequena elegia da Memória
Não nego que me sinto vencido
pela tua distância,
uma pedra e um pouco de gelo no sangue,
uma violeta na primavera desta morte em flor.
A aflição não passa
ainda que eu permaneça na defensiva, dia após dia,
na retaguarda do teu afecto.
Tocar-te o músculo, tal como a um livro de biblioteca.
Mas agora, o que se mantém vivo e fresco
no teu estojo de ossos? Assim, dizem,
se retira aos nossos restos, ainda que dignos,
o nervo e a tentação do teu nome.
Não dizer o teu nome, nunca. Não pode dar-se
tesouro eterno assim a mãos que me recusaram.
Quanto mais morres, mais difícil é dizer-te,
mais fácil é dizer apenas… corpo.
in Criatura nº 6 Novembro, 2011
Short elegy to Memory
I can’t deny feeling defeated
by your distance,
a stone and ice in the blood,
a violet in the spring of this dead blossom.
My misery doesn’t end
despite my standing day after day on the defensive,
in the rear line of your affection.
To touch your muscle as if touching a library book.
But now, what is there still alive and fresh
in this bone case of yours? Thus, it is said,
though dignified, remains are denied
the nerve and the lure of your name.
Not to mention your name, ever. Eternal treasure
can’t be granted just like that, to hands that rejected me.
The more you die, the harder it is to say it,
it’s much easier just to say… body.
© Translated by Ana Hudson, 2012
in Poems from the Portuguese