CRÓNICA DA CULTURA
Árpád Szenes
E escrever sobre o eu.
O eu que poucos conhecem, o eu de fora, o de dentro e os eus que nem a lâmina finíssima separa.
O eu nascido, o eu universo, o eu memória, o eu consciência, o eu virtual, expressão do self.
Sim.
Escrever. Refletir.
E escrever com as palavras
essenciais
e com todas as outras também essenciais.
Nelas e nas por escrever, acontecimentos, pensamentos, primeiros e últimos
de eus também de um deus; de deus nenhum; de eus de vários deuses.
E também escrever e refletir sobre o eu-coxo
e sobre o eu que desconhece
o coxeio.
E refletir e escrever sobre o eu das trocas do nada pelo vazio,
do não sei quem pelo não sei quê como ponto de partida.
Refletir.
Escrever.
Vitaliciamente.
E refletir e escrever sobre o eu das pandemias dos eus prenhos do medo.
Refletir e escrever
sobre todos os eus contidos na morte que os esquece.
E escrever sobre o eu.
E refletir sobre o eu debaixo da imensidão que carece de significado.
O eu
meu, nosso
ao qual chegamos
na estreita margem da liberdade
ainda triunfo, ainda aresta viva,
idealidade
Teresa Bracinha Vieira